11.2.09

Tempestade de granizo

Reinaugurando o Blog, registro a tempestade de granizo que caiu aqui em casa, hoje, 11 de fevereiro de 2009, no bairro Park Way de Brasília, entre 13h30 e 14h.
Vejam as fotos, tiradas 10 minutos depois que a tempestade amainou, pois a máquina fotográfica estava no escritório e eu sem acesso a ele...

Granizo que caiu do telhado e se acumulou na grama


Vista do gramado frontal, com granizo evaporando ao sol

Ventos intensos, chuva e granizo, e agora, 14h45, o sol se abre derrete o granizo acumulado na grama.

Não é a primeira vez que acontece, apenas a primeira que registro publicamente, no blog, e provocou algum estrago em papéis no meu escritório, pois o vento fez com que água e gelo entrassem pela porta e no vão da janela.

Por sorte, a maioria do papel molhado era rascunho do meu último trabalho, e no final acabou para contribuir para "limpar" o escritório.



Passagem -jardim interno - entre a sala e o escritório, cheia de água e gelo.....

14.11.07

Design nacional: Pumas no Carro do Brasil 2007

Tive um 1973, VW GTE, motor 1600 e cárter seco, feito na fábrica. Belo carro e andava muito. A mostra presente na exposição Carro do Brasil foi bem representativa, incluindo um Puma-Vemag, logo do comecinho de sua produção.
Vejam o vídeo com os Pumas da exposição, os premiados ao final.

13.11.07

A paixão pelo design e pelo Cuore Sportivo


A paixão geral é por design.
Adolescente na década dos cinquenta do século passado, estudando em Escola Técnica, período da implantação da FNM (Fábrica Nacional de Motores, para quem nunca ouviu falar da FêNêMê) e da indústria automobilística no Brasil. Tendo visitado todas as montadoras de automóveis há cerca de 40 anos atrás, em excursão com os colegas da ETFBH.
E Juan Manoel Fangio, piloto argentino, Chico Landi, o brasileiro das pistas de corrida, construção de Brasília, enfim o design, a mecânica fina, a estética das linhas simples e belas.
E o Cuore Sportivo junta isso tudo... O FNM-JK, as spiders, as 2300, GTVs, SZs, Brera...
Finalmente hoje, desafiando os raios que estão caindo aqui perto e que me levariam a desligar o Mac (para evitar a repetição da tragédia de um raio que destruiu o HD com a tese de doutorado em construção, ainda, da Ana Lúcia, em 1999), consegui fazer o upload do filminho que "rodei" no evento Carros do Brasil, que aconteceu de 31/10 a 04/11 aqui em Brasília. Onde mais poderia ser?
O comendador Roberto Nasser, que criou e comanda o Museu do Automóvel, juntou uma bela coleção de carros brasileiros e, de lambuja, conseguiu seis Ferraris em homenagem aos 60 anos da marca. Muito esforço e dedicação do Nasser fizeram o deleite de milhares de brasilienses e visitantes que passavam pela cidade.
O cenário não poderia ser melhor: o recém-inaugurado Centro Cultural da República, na Esplanada dos Ministérios e junto à Rodoviária (para quem não conhece, exatamente onde o desenho do avião faz o X , encontro das asas com a fuselagem), com a catedral bem juntinho (como poderão ver no clipe que fiz).
Aliás, eu diria que melhor lugar só na Praça dos Três Poderes, mas acho que ali as "autoridades" não deixam...
O vídeo não foi gravado numa Arriflex, quem sou eu (isso é pra gente grande...), mas com uma camerazinha Casio Exilim EZ700, e editado no Imovie deste MacPro (design, meus caros, é a paixão, eu já confessei lá em cima...). Eu ainda não domino o programa, e não consegui editar o som. Saiu o que foi gravado, e teve bastante vento zunindo no microfone da câmera. Desculpem pela falha, pois a trilha sonora (que em alguns momentos pode ser ouvida) que Nasser escolheu casou muito bem com o evento.
Parabéns, Nasser. E que a cada ano seja um evento com maior repercussão de público e crítica!
PS: São pouco mais de seis minutos de vídeo em menos de 10MB.

7.10.07

Grande estréia!

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, mais conhecido por sua sigla IPEA, já começa a mostrar sinais de que está nas mãos de pessoas que se dedicarão ao reerguimento da instituição, ao compromisso com a população brasileira e à recuperação do desgaste sofrido pelo indevido uso da sua griffe nas últimas décadas.
E quais são esses "indicadores"?
No sábado, dia 05 de outubro, a Folha de São Paulo publicou um artigo de João Sicsú, o novo diretor responsável pelo IPEA -Rio, onde demonstra a situação de penúria em que o Estado brasileiro se encontra, incapaz de prover os serviços essencias de saúde e educação à grande maioria da nossa população. Isso apesar da imensa arrecadação de tributos, usual foco do ataque do setor empresarial, financeiro de das classes da população de maior renda.
Até então, as vozes que se alevantavam no IPEA-Rio, na última década, pelo menos, gritavam que o governo gasta mal, que o Estado precisa encolher, e coisas do gênero, enfim, um certo alinhamento e/ou ventriloquismo do que pregavam os setores financeiros e empresariais.
Em seu texto (transcrito abaixo) ele lembra que a carga tributária alta não é, em si mesmo, uma coisa ruim, mas a questão está na "entrega" de serviços de qualidade à população como retorno dessa cobrança. Mas o que está acontecendo em nosso país é que os recursos não existem para contratar professores, médicos, enfermeiras, pois é em sua grande parte dirigido para pagar os juros da dívida pública.
Quem se beneficia disso? exatamente aqueles que mais "gritam" contra a cargo tributária que os enriquece...
Esse artigo do Sicsú mereceu um comentário do Clóvis Rossi, na mesma Folha, hoje, domingo, dia 07 de outubro (vejam transcrição integral, mais abaixo). E Rossi coletou mais argumentos em um trabalho de Sicsú. Lembra o articulista da Folha que, de acordo com esse estudo (grifos são meus), "no primeiro mandato do presidente Lula os juros comeram R$ 587,9 bilhões. Correspondem a 25% de tudo o que país produziu em 2006, à imponente média de algo em torno de 6% ao ano. Para comparação, sempre segundo a mesma fonte: com educação, os gastos somaram R$ 62,3 bilhões; com saúde, R$ 136,3 bilhões."
E segue Rossi em sua coluna de hoje: "Como lembra freqüentemente Marcio Pochmann, ex-Unicamp, ex-secretário de Marta Suplicy e hoje presidente do Ipea, 80% do que é pago de juros vai para o bolso de apenas 20 mil famílias, a elite da elite...".
(A propósito: o "Impostômetro" citado por Rossi diz que mede os impostos que a população paga: mas não será a medida das imposturas teóricas e práticas dessa gente? qual será a "taxa de sonegação" embutida no medidor? quanto que os consumidores pagam de impostos embutidos nos produtos e que não são recolhidos aos cofres da Viúva?)

Acho que a nova direção do IPEA vai focar efetivamente quais são os principais problemas do país e a instituição poderá voltar a dar uma significativa contribuição para o encaminhamento de soluções em benefício da população brasileira.
Com minha torcida e votos de muito sucesso!
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Folha de São Paulo, 05.10.03, página 3, Debates

JOÃO SICSÚ
Vitamina contra o nanismo estatal

Uma carga tributária elevada é inaceitável apenas quando os impostos são altos e os serviços públicos são precários

É FUNDAMENTAL analisar o Orçamento público e o tamanho do Estado, ou seja, sua capacidade de gerar bem-estar. Aparentemente, essas coisas estariam relacionadas: quanto maior o Orçamento, maior a capacidade do Estado de ofertar serviços e bens públicos de qualidade. Entretanto, a máxima "as aparências enganam" aplica-se aqui: o Orçamento no Brasil tem tamanho considerável, aproximadamente 40% do PIB, mas o Estado brasileiro sofre de nanismo.
O tamanho do Orçamento mede-se pela carga tributária mais a capacidade de realização de déficits públicos. A carga tributária e o tamanho do PIB são as variáveis que explicam a arrecadação. Já a capacidade de endividamento depende, especialmente, da confiança do público na capacidade do governo de honrar a sua dívida.
O nanismo de um Estado pode ser examinado por meio de uma variável-síntese: o número de fiscais da receita pública por 1.000 km2 de um país. O argumento é que a meticulosa arrecadação de impostos, o combate à sonegação e a criminalização de atividades econômicas ilícitas seriam necessários para sustentar um Estado -do ponto de vista moral e da necessidade de seu financiamento para realizar múltiplas atividades. Tais critérios são sempre arbitrários e passíveis de sofrer críticas. Mas é melhor utilizar algum critério, ainda que reconheçamos sua limitação. Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), para o ano de 2004, o Brasil possuía 0,9 fiscal para cada 1.000 km2 de território. Já a Bélgica possuía mais de 310 fiscais, a Holanda, 227, e o Japão, mais de cem. No ranking de países não pertencentes à OCDE, o Brasil ocupou a última colocação: o Estado brasileiro é o nanico da sua turma.
A carga tributária brasileira elevada não deve ser considerada, a priori, como uma carga negativa. Uma carga tributária elevada é inaceitável somente quando ela é non-delivery, ou seja, não entrega o prometido: quando os impostos são altos e as ofertas públicas são precárias, isto é, quando paga-se uma elevada carga tributária e ainda se pagam caros planos de saúde e escolas privadas porque escolas e hospitais públicos não têm qualidade. Nessas ocasiões, a sociedade tende a desenvolver um sentimento antiestatal e a propaganda liberal do "Estado ineficiente" ganha ressonância.
O Estado brasileiro é nanico porque o governo gasta de forma ineficiente e exagerada, pagando juros inaceitáveis relativos à divida pública. Entre 2003 e 2006, o Banco Central gerou para a União uma despesa nessa rubrica de aproximadamente R$ 600 bilhões. Se o BC tivesse economizado a metade, o governo federal poderia ter realizado dezenas de PACs já no primeiro mandato do presidente Lula.
Uma "vitamina" que o Estado precisa tomar para superar o seu naniquismo é a contratação de fiscais, professores, engenheiros, médicos, pesquisadores e policiais. O governo não tem recursos para essa "vitamina" porque tem sido um gastador exuberante; desperdiça um volume enorme de recursos na forma de pagamento de juros, o que debilita o próprio Estado, acentuando seu nanismo. Por meio de concursos públicos e pagando salários dignos, o Estado poderia ser revigorado, absorvendo profissionais de alto nível para servir a sociedade que paga uma elevada carga tributária. Mas o que se vê é o Orçamento desperdiçado com gastos exorbitantes que não geraram empregos nem bem-estar. O governo precisa melhorar a qualidade do seu gasto, comprando "vitamina" no lugar de pagar juros não civilizados.
JOÃO SICSÚ é diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor do Instituto de Economia da UFRJ. É autor do livro "Emprego, Juros e Câmbio" (Campus-Elsevier, 2007) e co-autor e organizador do livro "Arrecadação (de onde vem?) e Gastos Públicos (para onde vão?)", Boitempo Editorial, 2007.
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São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007, página 2
CLÓVIS ROSSI
O "jurômetro"

SÃO PAULO - Nada contra o "impostômetro" montado pela Associação Comercial para mostrar o quanto o brasileiro paga de impostos. Mas o placar só ficaria completo se alguém se dispusesse a montar o "jurômetro", o quanto o governo paga de juros aos detentores da dívida pública.
Houvesse tal contagem, o brasileiro ficaria sabendo que é o pagamento de juros o maior responsável pelos números altíssimos do "impostômetro".
No primeiro mandato do presidente Lula, conforme compilação de João Sicsú, economista hoje no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), para a revista "Rumos do Desenvolvimento", os juros comeram R$ 587,9 bilhões. Correspondem a 25% de tudo o que país produziu em 2006, à imponente média de algo em torno de 6% ao ano.
Para comparação, sempre segundo a mesma fonte: com educação, os gastos somaram R$ 62,3 bilhões; com saúde, R$ 136,3 bilhões.
Como lembra freqüentemente Marcio Pochmann, ex-Unicamp, ex-secretário de Marta Suplicy e hoje presidente do Ipea, 80% do que é pago de juros vai para o bolso de apenas 20 mil famílias, a elite da elite, essa que o petismo ama atacar, mas alimenta caprichosamente ano após ano (como o fazia o governo anterior, aliás).
Como diria o próprio Lula, nunca neste planeta se transferiu tanto dinheiro do conjunto dos contribuintes para os ricos mais ricos.
Não há a mais leve perspectiva de que essa transferência maciça seja reduzida nos próximos anos. Logo, fica sendo mais uma bravata sem sentido a tese (de resto correta) de Lula segundo a qual o governo deveria "contratar mais gente, mais qualificada, mais bem-remunerada, porque aí teremos também serviços de excelência prestados para a sociedade brasileira".
É tudo o que não existe nem vai existir no futuro próximo.

29.9.07

Constituição garante ambiente equilibrado, lembra Desembargador Prudente

Padre Edilberto sai animado da conversa com Desembargador




Na tarde dessa sexta-feira o Padre Edilberto Sena, representante da Frente de Defesa da Amazônia (FDA), de Santarém, esteve em Brasília em audiência com o Desembargador Federal Antônio Souza Prudente, do Tribunal Federal Regional, da 1ª Região.

O Desembargador Prudente foi o relator do processo em que o Ministério Público Federal do Pará solicitou o fechamento do porto graneleiro da Cargill, instalado em Santarém sem a realização do devido Estudo de Impacto Ambiental -EIA, obrigatório por lei.
O porto opera desde 2003 com base em liminares obtidas na Justiça, e já embarcou mais de 2 milhões de toneladas de soja, de acordo com os levantamentos do Padre Edilberto.

Embora tenha sido voto vencido em algumas questões, o Desembargador Prudente entende que o Acórdão resultante do julgamento contém questões positivas e importantes para os aspectos ambientais e sociais. A divulgação desse documento no Diário Oficial da Justiça ocorrerá muito em breve, tendo o Desembargador conversado com o Padre Edilberto sobre as questões que se tornaram públicas na sessão de julgamento em que apresentou seu relatório sobre o caso.

De acordo com o representante da FDA, a perspectiva do movimento social quanto à questão agora ficou mais clara, e o próximo passo deverá ser acionar o Ministério Público Federal para que faça a devida apelação com objetivo de paralisar o porto até que o EIA seja concluído e aprovado. E mais, para que a realização desse estudo seja imediatamente determinada pela Justiça, e não fique aguardando para que o processo transite em julgado, o que não se pode avaliar quando irá ocorrer.
O Observatório acompanhou o Padre Edilberto na audiência com o Desembargador Prudente, e realizou a entrevista exclusiva que aparece editada no vídeo acima.

21.9.07

Os homens (e mulheres esmagados com as laranjas) que viram Suco

Já que estamos na filmografia, um título bem nacional: "O homem que virou suco".

Aqui, a culpa é do mercado, segundo justificativa dos produtores e industriais da cadeia de suco de laranja para manter seus trabalhadores em condições vís e recebendo menos que o salário mínimo. Em pleno Estado de São Paulo, não é coisa do Maranhão ou Piauí!

De acordo com a repórter Jucimara de Pádua, da Folha de São Paulo, a “Fiscalização estima que cerca de 3.000 trabalhadores de uma das principais regiões produtoras de SP recebam abaixo de R$ 380”

Informa a repórter que, em 50 propriedades produtoras de laranjas, fiscais do Ministério do Trabalho constataram que grande parte dos empregados na colheita “não têm equipamentos de segurança e são transportados em veículos precários”, além de receberem menos que um salário-mínimo por mês.

Os laranjais visitados ficam na região de Araraquara e São Carlos (interior paulista), que produz 30% da colheita brasileira do fruto, cerca de 100 milhões de caixas de laranja, de acordo com a Folha.

"A situação do trabalhador na lavoura da laranja está pior que a do trabalhador da cana", disse à repórter o subdelegado do Trabalho de São Carlos, Antonio Valério Morilas Junior.

De um lado, a desculpa e descaso

O presidente da Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores), Flávio Viegas, diz que o baixo preço pago pela indústria aos produtores de laranja é o grande responsável pelas irregularidades nos laranjais. A Abecitrus (Associação Brasileira dos Exportadores de Citros) tira o corpo fora, afirmando que não tem nenhuma responsabilidade nas irregularidades.

Segundo Morilas Júnior, da DRT, 95% dos funcionários aceitaram trabalhar ganhando menos que o salário mínimo. Eles recebem de R$ 240 a R$ 360.

O presidente da Associtrus informa que a indústria os paga de U$ 3 a U$ 4 a caixa, quando o custo de produção é de U$ 7. Não conseguimos oferecer melhores condições de trabalho", conclui Viegas.

O presidente da Abecitrus (exportadores), Ademerval Garcia, informou que "a caixa de laranja é comprada pela indústria na porta da fábrica, que não tem responsabilidade pela colheita". Ele diz que o preço da caixa de laranja não está baixo. "É negociado entre produtor e indústria. Seguimos o mercado", conclui Garcia.

Ou seja, se a colheita é realizada por semi-escravos, eles fecham os olhos para isso e esmagam laranjas e homens. O que importa é exportar o suco. Quando começarem a enfrentar barreiras nessa exportação, devido às condições de trabalho degradantes na cadeia produtiva, vão se sentir injustiçados.

Do outro lado, o desamparo

Elio Neves, presidente da Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), disse à FSP que as irregularidades no setor de laranja demonstram o "descaso" com os trabalhadores.

"O agronegócio brasileiro tem a cultura de descumprir os direitos, completou ele à repórter da Folha, e toda vez que a fiscalização afrouxa, as irregularidades aparecem. O suco de laranja brasileiro é competitivo no mercado internacional à custa do trabalho degradante e o não-cumprimento das normas trabalhistas", disse Neves.

Ademildo Luque, 38, que colhe laranjas na região de Itápolis há quatro anos, disse à repórter da Folha que nunca enfrentou situação tão crítica. "A maioria não consegue tirar o salário mínimo porque a laranja está miúda. Trabalhamos o dia todo e com muito custo conseguimos encher a caixa. A safra está ruim." Os trabalhadores ganham por produtividade -o produtor paga R$ 0,31 por caixa colhida de 27 kg.

do Touro Sentado ao Boi voador, passando pelo nosso Capitalismo...

O sui generis capitalismo à brasileira deve ser muito difícil de ser entendido pelos economistas, especialmente aqueles alinhados com a ortodoxia neo-liberal.

Como encaixar o pedido que fazem os usineiros para que o governo intervenha no mercado, como ouvido pelo Ministro da Aricultura em sua reunião com a Comissão Nacional de Cana-de-Açúcar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), quando, de acordo com a Folha de São Paulo (21.09.07), os membros da CNA demandaram “uma presença maior do governo na regulamentação do setor sucroalcooleiro no Brasil”. Diz a Folha que, “no encontro, os produtores de cana reivindicaram ao governo uma regulação mínima do setor para compatibilizar a relação entre produção e mercado...pois os preços médios recebidos pela tonelada de cana estão cerca de 20% abaixo do seu custo”. Segundo eles, “A principal causa da queda nos preços é o excesso de oferta, decorrente da expectativa de aumento de demanda.”
Na hora de ganhar, louva-se o mercado e exige-se que o governo fique fora, não intervenha. Se aumentam a produção visando ganhar mais, o que é natural – mas de acordo com as regras do mercado capitalista maior oferta significa menores preços unitários – então o governo tem que intervir para garantir maior preço!
Enquanto isso, o braço político do conjunto de senhores da terra aproveita mais um momento de fraqueza política do governo Federal para obter vantagens financeiras, (en)rolando suas dívidas em melhores condições, troca essa feita por apoio à continuidade do imposto sobre movimentações financeiras –CPMF, que naturalmente vai contra tudo que esses ditos capitalistas defendem, teoricamente.
Ainda de acordo com a FSP, onde relata o repórter Fábio Zanini:
“Além de distribuir cargos para aprovar a emenda da CPMF, uma das principais ofensivas do governo anteontem, antes da votação, foi feita com a bancada ruralista, uma das mais influentes na Câmara.
Por volta das 17h, quando começava a batalha ...pela aprovação da emenda ..., um grupo de seis líderes ruralistas e um vice-líder do governo era recebido no gabinete do ministro Guido Mantega (Fazenda) por ele e seu colega Reinhold Stephanes (Agricultura).
Ouviram a promessa de que a dívida de R$ 120 bilhões no campo estaria rolada até o fim do ano e a garantia de que 33 mil imóveis de proprietários em débito não serão leiloados (grifos meus).
...
De lá, os deputados partiram para a Câmara. O próprio Stephanes foi ao plenário, por volta das 22h30, quando a votação acontecia. "Faz parte da minha função ajudar a articular."
O repórter perguntou, então, ao Ministro da Agricultura, o que estva fazendo lá na Câmara dos Deputados. Resposta:
- Faz parte da minha função ajudar a articular quando necessário.
FOLHA - O sr. foi articular como? Foi ouvir pedidos de cargos?
STEPHANES - Não. Foi simbólico, para mostrar que estou presente. A maior parte do tempo fiquei sentado.
Até parece que, para articular no Plenário da Câmara, algum Ministro de Estado precisa ficar circulando, de pé: normalmente faz-se uma “romaria” para conversar com o visitante...
Mas enquanto o Touro ficou Sentado na Câmara, no Mato Grosso parece que a boiada está toda voando! Dizem os pecuaristas, de acordo com a CNA, que não foram eles os responsáveis pelo aumento do desmatamento no Estado. Os sojeiros falam a mesma coisa. Quem, então, derrubou tantas árvores que fez a área desmatada duplicar? os preços da carne e da soja aumentaram no mercado internacional, mas os pecuaristas do MT dizem que não têm esse estímulo porque a zona não tem condições de exportar devido à febre aftosa. Já o presidente interino da Federação da Agricultura e Pecuária do MT, Normando Carral, diz que “a pecuária ocorre no cerrado e não na floresta, em áreas propícias para a criação de gado e para a lavoura”.
Parece que esse senhor chegou à Terra agora, simplesmente ignorando a história da pecuária nas últimas quatro ou cinco décadas, quando estimulada por incentivos fiscais penetrou fortemente na Floresta Amazônica. Além disso, sua justifictiva indica que desmatar o Cerrado não tem problema, já que ele não vale nada mesmo, e que sua destruição –além da perda da biodiversidade e das águas que vão desaparecer – não estaria contribuindo, e muito, para o aquecimento global do Planeta.
Aí já chegamos ao boi voador imitando avestruz, enfiando a cabeça dentro da areia para não enxergar o que se passa à sua volta...