25.7.07

A culpa é da mãe

Na terça feira passada houve a prestação de contas do primeiro ano da declaração da Moratória da Soja na Amazônia, em São Paulo.

Como avô da criança, não poderia deixar de estar presente. Mineiro, tinha que sair com antecedência. Programei meu vôo, então, na segunda-feira às 15h30, pela Gol, indo para Guarulhos.

Cheguei ao aeroporto de Brasília, às 14h30, fiz o check-in "rápido", sem bagagem, pois a fila para o "normal" devia ter umas 100 pessoas. Não havia previsão de saída, já que Guarulhos e Congonhas estavam fechados por mau tempo. Como isso existia antes mesmo do chamado "apagão" aéreo, achei que passaria logo e poderia chegar ainda na segunda em São Paulo.

Fiquei por ali, nos corredores do aeroporto de Brasília, matutando e observando o que estava acontecendo. Comprei um jornal, Valor Econômico, pois tinha a informação que na segunda ele publica as cotações de automóveis da FIPE, e eu poderia verificar quanto a Seguradora vai pagar pela perda total de minha Alfa 164 (que foi "assassinada" na quinta feira passada, dia 19, quando um carro bateu em sua traseira).

Tomei um expresso curto, nas mesas do 3º piso em frente aos cinemas, li o jornal (e a info não estava lá, eu havia caído em propaganda enganosa), bebi uma Coca-Cola Zero (será que reduziram a produção/distribuição da "normal", que não havia alí, para dar a impressão que a "zero" explodiu as vendas, ganhando mercado...?).

Estava vivendo minha segunda experiência de apagão aéreo, e ainda não sabia.

O "clima" interno do aeroporto comecou a piorar lá pelas 17h: muita gente chegando sem poder viajar, nem mesmo fazer o check-in, boatos de cancelamento de todos os vôos para São Paulo, pessoas ficando irritadas e brigando com os funcionários das companhias -acho que isso aconteceu mais com a Gol, mas não tenho certeza.

Decidi sair desse clima, que não faz bem pra saúde de ninguém, e esperar uma solução em casa (que fica perto do aeroporto). Perguntei a um funcionário da Gol se poderia me dar o número do telefone do check-in, para que pudesse saber do início dos vôos e retornar ao aeroporto para embarcar. A resposta foi que só existem ramais internos, não há como se comunicar com eles de fora do aeroporto. Um pretendente a passageiro que estava encostado no balcão acrescentou:
- E tem mais: quando o telefone toca aqui, eles tiram o fone do gancho e o recolocam no lugar, desligando-o sem sequer ouvir quem está do outro lado da linha.

Mesmo assim, prevendo que a coisa ia demorar, pedi à Ana Lúcia que me buscasse e fui para casa. De lá, acessei a página da Gol na Internet e seu telefone 0800, conforme relato mais abaixo.

Às 20h, sem quaisquer informações sobre o que iria acontecer tomei a única decisão que tinha governança plena, desistir da viagem - e retornei ao Aeroporto, onde enfrentando uma fila com cerca de 25 pessoas, pouco mais de meia hora depois consegui fazer o cancelamento na loja da Gol.

Quero dividir, aqui, minhas conclusões quase definitivas, sobre o que anda acontecendo:

1- não vejo como uma companhia de transporte aéreo, que depende de uma logística refinada, não tenha um Plano de Contingência para lidar com problemas em seus aeroportos-chaves, que servem de pião para toda sua malha aérea;

2- Se você escolhe Congonhas como pião, não vai buscar o histórico de sua operação, ou de seus fechamentos, para se preparar para o que lá não é uma eventualidade mas algo perfeitamente previsível, falta de condições climáticas para operação? isso aplica-se, também, a Guarulhos, a Curitiba, etc;

3- como uma cia. que se diz "inteligente", que atende e depende do público -algumas até agradecem em suas mensagens durante o vôo o fato do cliente a ter escolhido - não capacita suas equipes de frente, de atendimento, e seus gerentes, para lidar com a pressão de dois, quatro e até dez vôos atrasados, ou seja, de 300 a 1.500 pessoas se apinhando e ficando nervosas, tensas, desesperadas até, em busca de informações e atendimento em seus pontos de checagem ou atendimento geral? não é fácil suportar essa pressão, vamos e venhamos;

4- Na tarde dessa segunda feira, para se conseguir qualquer informação da Gol era preciso entrar na fila do check-in, naturalmente com mais de 300 pessoas, e que permanecia parada o tempo todo, ou furar fila sob intensos olhares admoestadores, como acabei fazendo;

5-Fui para casa e entrei na Internet, na página da Gol, pois era mais fácil que entrar na fila. Ali, havia um local de informações sobre horários de vôo: cliquei, pedi o relativo ao meu vôo, e a informação que suriu dizia que ele havia decolado às 15h30 para Guarulhos. Ou seja, mera programação sem relação com a realidade, sem atualização;

6- Na página havia, então -maravilha! - um "Atendimento on-line, Novo!, via internet - que, depois de preenchido um formulário de identificação, indicava: "você é o 20º da fila, não desligue...". Fiquei pacientemente esperando, em uns dez minutos chegou a minha vez, surgindo a informação: "carregando...". E assim ficou, carregando, carregando..., por outros dez minutos, até que caiu, desligou;

7- Otimista que sou, consultei novamente a página da Gol e descobri, finalmente, que ela havia deixado os 0300 (apenas temporariamente, adverte uma voz), em que pagamos para esperar ouvindo anúncios e musiquinhas, por um 0800 para informações, sem custo para o cliente. Cerca de 80% das opções de digitação terminavam remetendo a uma consulta no site;

8-Lá pela décima tentativa, resolvi adotar uma opção que nada tinha a ver, já que as outras me remetiam ao site, e fui atendido por uma pessoa, ao vivo, e que até buscava ser simpática e tentava resolver o problema. Tentei saber os vôos previstos para a manhã do dia 24, terça, e havia um assento no vôo das 7h40 para Congonhas, e outro em um vôo para Guarulhos. Mas não dava para fazer a reserva, argumentou o rapaz, pois mudaria de tarifa, etc e tal. Só pessoalmente, e no aroporto já que as lojas estavam fechadas, naquele momento. A essa altura, o que eu desejava era cancelar o vôo sem ter mais prejuízos ainda. Ah, isso não pode ser feito pela internet ou pelo 0800, tambeem tem que ser pessoalmente, na loja da cia.
Aí voltei ao aeroporto e enfrentei uma fila de 25 pessoas, e cancelei a viagem.

Qual é a conclusão? perguntarão vocês.

Ora, quando um dono de uma companhia que prefere empresdar, isso mesmo, vocês leram direitinho, empresDar (leia com um sotaque de "batrício" que aprendeu a língua portuguesa na marra, depois de aqui aportar, que fica até bonitinho) dois milhões de reais a políticos "amigos", ao invés de aplicá-los em planos de contingência ou capacitação de pessoal para enfrentar crises que se tornaram absolutamente "normais" no dia-a-dia da empresa, e que certamente afetarão sua imagem e faturamento, quem é o culpado? o governo? a infraero? os controladores de vôo? o guarda da esquina? o varredor de rua???? São Pedro, que não colabora? mas, porquê não pensei nisso antes, claro que é a mãe ! (geralmente dizem ser a nossa, tadinha..., que descanse em paz).

Quem sabe, quando o Capitalismo chegar nessas plagas (eu escrevi plagas, não "pragas"), existirão empresários e empresas comprometidas com seus clientes.
Por enquanto, os assim classificados são todos herdeiros dos Donatários, que receberam as Capitanias Hereditárias, e que vivem às custas da Viúva graças às suas relações inconfessáveis com os detentores do poder...

15.7.07

A briga do Executivo com Legislativo pela máquina estatal

Há uma grande confusão e mitos envolvendo gestão pública e privada.

Eu, por exemplo, pedi demissão de uma empresa privada após quatro meses de trabalho, e vejam porquê: propus e foi aprovado pela direção a criação de um sistema de controle de custos, que serviria de referência para elaboração de orçamentos competitivos em licitações (era uma empreiteira). Quatro meses de trabalho junto com um arquiteto mais antigo na empresa, e vamos todos contentes apresentar o programa (desenvolvido em uma velha -já para época - máquina de contabilidade, cheia de pinos, alavancas etc) ao dono. Apresentamos o programa, suas vantagens, etc. E o dono da empresa rasga elogios ao nosso trabalho mas diz, suavemente (mais ou menos isso, reproduzo com os poucos neurônios que ainda funcionam, e já se vão lá 40 anos...):
- meus amigos, gostei muito mas não vou usar. Sabem como é: se começar a controlar meus gerentes regionais com isso, vou perdê-los. Sei que cada um me tira um naco, mas são eles que arranjam os contratos. Não quero perdê-los por uma bobagem dessa, pois não é o preço competitivo que vai me trazer contratos: são os contatos dos gerentes que geram o faturamento. Assim está bom e não vou mudar.

Claro que fui imediatamente escrever a carta de demissão. Mas alguns anos depois vi que, do ponto de vista dele e de sua empresa, ele estava corretíssimo: é assim que as coisas funcionam nesse país. A empresa até hoje vai bem, obrigado.

Por outro lado, trabalhei em nichos dinâmicos do serviço público, sei que diferentes da máquina estatal em geral por não se tratarem da Administração Direta. Nesses lugares todos os servidores, então, suavam a camisa para um trabalho coletivo chegar a um bom resultado, com rapidez, eficiência, virando noites e fins de semana, se preciso fosse. E, pelo menos até então, as gestões se pautavam pelo interesse público, sem desvios de recursos, e alcançavam resultados.
Sim, devo esclarecer que em todos esses lugares o regime de contrato era CLT, mas não fazia diferença, pois ninguém se preocupava com relação à estabilidade no emprego, por exemplo - embora em uma determinada fase do IPEA - onde, sem qualquer problema, todas as críticas contra o governo eram admitidas, discutidas e até mesmo escritas em documentos - algumas poucas pessoas tenham sido demitidas, infelizmente, por questões políticas (foram reintegrados com a anistia).

Porque os servidores deixaram de ser contratados no regime da CLT? é uma briga antiga, dentro da máquina pública, onde de tempos em tempos se aperta o controle e depois o Poder Executivo tem sucesso em obter saídas, consegue afrouxar "as garras" do Tribunal de Contas da União/Poder Legislativo: quando as Autarquias entraram no rígido controle do TCU, algum tempo depois de criadas com regras operacionais menos rígidas que as dos Ministérios, a solução do Executivo foi inventar Empresas Públicas que, aos poucos, foram também submetidas ao controle do TCU. Substituindo as empresas, apareceram então as Fundações de Direito Público.
A Constituinte de 1988 voltou a apertar o Poder Executivo, acabando com as contratações em CLT e reimpondo um Regime Jurídico Único (RJU) no funcionalismo junto com o Concurso Público, um dos pilares no controle do preenchimento de vagas públicas, que vem do fim da década de 1930 com o DASP. E a criação de entidades pelo Poder Executivo passou a ser controlada pelo Legislativo, que as tem que aprovar.

FHC tentou contornar o RJU e o controle do Poder Legislativo/TCU através de organizações civis de interesse público (Bresser Pereira), chegando a colocar algumas sob controle privado, mas o interesse então era mesmo nos grandes negócios da privatização das empresas estatais.

Agora, o atual governo vem com propostas semelhantes. Talvez até funcione para hospitais, mas como o Sarah é o único exemplo que conheço, acho que vai ser difícil (parece que são 250) achar tanta gente com as características e capacidade gerencial necessárias para que, pelo menos, a metade dê certo.

Vamos aguardar: o importante, para mim, é que a população tenha um atendimento decente no Sistema Único de Saúde, que os recursos públicos sejam corretamente utilizados, que os funcionários trabalhem bem e, em contrapartida, recebam salários dignos da competência, dedicação e esforço realizados.

As duas mãos viraram uma

Alguém acredita que, como parece ser a norma brasileira, corrupto é apenas o servidor público que recebe dinheiro de empreiteira?
O corruptor nada tem a ver com o que aconteceu?
Pelo menos foi isso que se viu no processo quanto ao PC Farias, quando grandes empresários confessaram publicamente ter dado dinheiro, mas a mídia os tratou como "vítimas" (quando eram, na realidade, parceiros), e isso agora se repete no Caso do Renan: será que o amigo lobista (já que as pessoas duvidam que o dinheiro teria sido de Renan) era tão rico e tão amigo que dava aquela dinheirama de seu próprio bolso?
Ainda não vi qualquer jornalão, TV ou o Ministério Público, ir atrás da contabilidade da empresa para ver esse provável caixa 2...

8.7.07

Equívoco?

O Estadão, hoje, diz que técnicos do TCU estimam que metade dos recursos que o governo repassa a ONGs são desviados.
Sabemos que existem muitas ONGs de fachada, criadas por espertalhões e políticos, às vezes associados, para pegar recursos escondidos nessa geléia geral que se chama de ONG. Tem muita gente séria trabalhando com sucesso nas organizações não governamentais, atingindo os objetivos propostos em seus projetos, e que ficam equivocadamente sujeitas a essa pichação genérica.
Mas será que os meios de comunicação não conseguem fazer um esforço para separar as pedras do feijão? Será que o desejo é realmente de desqualificar todas essas organizações junto à opinião pública brasileira?
Essa queimação geral das ONGs ajuda alguma coisa?