14.11.07

Design nacional: Pumas no Carro do Brasil 2007

Tive um 1973, VW GTE, motor 1600 e cárter seco, feito na fábrica. Belo carro e andava muito. A mostra presente na exposição Carro do Brasil foi bem representativa, incluindo um Puma-Vemag, logo do comecinho de sua produção.
Vejam o vídeo com os Pumas da exposição, os premiados ao final.

13.11.07

A paixão pelo design e pelo Cuore Sportivo


A paixão geral é por design.
Adolescente na década dos cinquenta do século passado, estudando em Escola Técnica, período da implantação da FNM (Fábrica Nacional de Motores, para quem nunca ouviu falar da FêNêMê) e da indústria automobilística no Brasil. Tendo visitado todas as montadoras de automóveis há cerca de 40 anos atrás, em excursão com os colegas da ETFBH.
E Juan Manoel Fangio, piloto argentino, Chico Landi, o brasileiro das pistas de corrida, construção de Brasília, enfim o design, a mecânica fina, a estética das linhas simples e belas.
E o Cuore Sportivo junta isso tudo... O FNM-JK, as spiders, as 2300, GTVs, SZs, Brera...
Finalmente hoje, desafiando os raios que estão caindo aqui perto e que me levariam a desligar o Mac (para evitar a repetição da tragédia de um raio que destruiu o HD com a tese de doutorado em construção, ainda, da Ana Lúcia, em 1999), consegui fazer o upload do filminho que "rodei" no evento Carros do Brasil, que aconteceu de 31/10 a 04/11 aqui em Brasília. Onde mais poderia ser?
O comendador Roberto Nasser, que criou e comanda o Museu do Automóvel, juntou uma bela coleção de carros brasileiros e, de lambuja, conseguiu seis Ferraris em homenagem aos 60 anos da marca. Muito esforço e dedicação do Nasser fizeram o deleite de milhares de brasilienses e visitantes que passavam pela cidade.
O cenário não poderia ser melhor: o recém-inaugurado Centro Cultural da República, na Esplanada dos Ministérios e junto à Rodoviária (para quem não conhece, exatamente onde o desenho do avião faz o X , encontro das asas com a fuselagem), com a catedral bem juntinho (como poderão ver no clipe que fiz).
Aliás, eu diria que melhor lugar só na Praça dos Três Poderes, mas acho que ali as "autoridades" não deixam...
O vídeo não foi gravado numa Arriflex, quem sou eu (isso é pra gente grande...), mas com uma camerazinha Casio Exilim EZ700, e editado no Imovie deste MacPro (design, meus caros, é a paixão, eu já confessei lá em cima...). Eu ainda não domino o programa, e não consegui editar o som. Saiu o que foi gravado, e teve bastante vento zunindo no microfone da câmera. Desculpem pela falha, pois a trilha sonora (que em alguns momentos pode ser ouvida) que Nasser escolheu casou muito bem com o evento.
Parabéns, Nasser. E que a cada ano seja um evento com maior repercussão de público e crítica!
PS: São pouco mais de seis minutos de vídeo em menos de 10MB.

7.10.07

Grande estréia!

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, mais conhecido por sua sigla IPEA, já começa a mostrar sinais de que está nas mãos de pessoas que se dedicarão ao reerguimento da instituição, ao compromisso com a população brasileira e à recuperação do desgaste sofrido pelo indevido uso da sua griffe nas últimas décadas.
E quais são esses "indicadores"?
No sábado, dia 05 de outubro, a Folha de São Paulo publicou um artigo de João Sicsú, o novo diretor responsável pelo IPEA -Rio, onde demonstra a situação de penúria em que o Estado brasileiro se encontra, incapaz de prover os serviços essencias de saúde e educação à grande maioria da nossa população. Isso apesar da imensa arrecadação de tributos, usual foco do ataque do setor empresarial, financeiro de das classes da população de maior renda.
Até então, as vozes que se alevantavam no IPEA-Rio, na última década, pelo menos, gritavam que o governo gasta mal, que o Estado precisa encolher, e coisas do gênero, enfim, um certo alinhamento e/ou ventriloquismo do que pregavam os setores financeiros e empresariais.
Em seu texto (transcrito abaixo) ele lembra que a carga tributária alta não é, em si mesmo, uma coisa ruim, mas a questão está na "entrega" de serviços de qualidade à população como retorno dessa cobrança. Mas o que está acontecendo em nosso país é que os recursos não existem para contratar professores, médicos, enfermeiras, pois é em sua grande parte dirigido para pagar os juros da dívida pública.
Quem se beneficia disso? exatamente aqueles que mais "gritam" contra a cargo tributária que os enriquece...
Esse artigo do Sicsú mereceu um comentário do Clóvis Rossi, na mesma Folha, hoje, domingo, dia 07 de outubro (vejam transcrição integral, mais abaixo). E Rossi coletou mais argumentos em um trabalho de Sicsú. Lembra o articulista da Folha que, de acordo com esse estudo (grifos são meus), "no primeiro mandato do presidente Lula os juros comeram R$ 587,9 bilhões. Correspondem a 25% de tudo o que país produziu em 2006, à imponente média de algo em torno de 6% ao ano. Para comparação, sempre segundo a mesma fonte: com educação, os gastos somaram R$ 62,3 bilhões; com saúde, R$ 136,3 bilhões."
E segue Rossi em sua coluna de hoje: "Como lembra freqüentemente Marcio Pochmann, ex-Unicamp, ex-secretário de Marta Suplicy e hoje presidente do Ipea, 80% do que é pago de juros vai para o bolso de apenas 20 mil famílias, a elite da elite...".
(A propósito: o "Impostômetro" citado por Rossi diz que mede os impostos que a população paga: mas não será a medida das imposturas teóricas e práticas dessa gente? qual será a "taxa de sonegação" embutida no medidor? quanto que os consumidores pagam de impostos embutidos nos produtos e que não são recolhidos aos cofres da Viúva?)

Acho que a nova direção do IPEA vai focar efetivamente quais são os principais problemas do país e a instituição poderá voltar a dar uma significativa contribuição para o encaminhamento de soluções em benefício da população brasileira.
Com minha torcida e votos de muito sucesso!
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Folha de São Paulo, 05.10.03, página 3, Debates

JOÃO SICSÚ
Vitamina contra o nanismo estatal

Uma carga tributária elevada é inaceitável apenas quando os impostos são altos e os serviços públicos são precários

É FUNDAMENTAL analisar o Orçamento público e o tamanho do Estado, ou seja, sua capacidade de gerar bem-estar. Aparentemente, essas coisas estariam relacionadas: quanto maior o Orçamento, maior a capacidade do Estado de ofertar serviços e bens públicos de qualidade. Entretanto, a máxima "as aparências enganam" aplica-se aqui: o Orçamento no Brasil tem tamanho considerável, aproximadamente 40% do PIB, mas o Estado brasileiro sofre de nanismo.
O tamanho do Orçamento mede-se pela carga tributária mais a capacidade de realização de déficits públicos. A carga tributária e o tamanho do PIB são as variáveis que explicam a arrecadação. Já a capacidade de endividamento depende, especialmente, da confiança do público na capacidade do governo de honrar a sua dívida.
O nanismo de um Estado pode ser examinado por meio de uma variável-síntese: o número de fiscais da receita pública por 1.000 km2 de um país. O argumento é que a meticulosa arrecadação de impostos, o combate à sonegação e a criminalização de atividades econômicas ilícitas seriam necessários para sustentar um Estado -do ponto de vista moral e da necessidade de seu financiamento para realizar múltiplas atividades. Tais critérios são sempre arbitrários e passíveis de sofrer críticas. Mas é melhor utilizar algum critério, ainda que reconheçamos sua limitação. Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), para o ano de 2004, o Brasil possuía 0,9 fiscal para cada 1.000 km2 de território. Já a Bélgica possuía mais de 310 fiscais, a Holanda, 227, e o Japão, mais de cem. No ranking de países não pertencentes à OCDE, o Brasil ocupou a última colocação: o Estado brasileiro é o nanico da sua turma.
A carga tributária brasileira elevada não deve ser considerada, a priori, como uma carga negativa. Uma carga tributária elevada é inaceitável somente quando ela é non-delivery, ou seja, não entrega o prometido: quando os impostos são altos e as ofertas públicas são precárias, isto é, quando paga-se uma elevada carga tributária e ainda se pagam caros planos de saúde e escolas privadas porque escolas e hospitais públicos não têm qualidade. Nessas ocasiões, a sociedade tende a desenvolver um sentimento antiestatal e a propaganda liberal do "Estado ineficiente" ganha ressonância.
O Estado brasileiro é nanico porque o governo gasta de forma ineficiente e exagerada, pagando juros inaceitáveis relativos à divida pública. Entre 2003 e 2006, o Banco Central gerou para a União uma despesa nessa rubrica de aproximadamente R$ 600 bilhões. Se o BC tivesse economizado a metade, o governo federal poderia ter realizado dezenas de PACs já no primeiro mandato do presidente Lula.
Uma "vitamina" que o Estado precisa tomar para superar o seu naniquismo é a contratação de fiscais, professores, engenheiros, médicos, pesquisadores e policiais. O governo não tem recursos para essa "vitamina" porque tem sido um gastador exuberante; desperdiça um volume enorme de recursos na forma de pagamento de juros, o que debilita o próprio Estado, acentuando seu nanismo. Por meio de concursos públicos e pagando salários dignos, o Estado poderia ser revigorado, absorvendo profissionais de alto nível para servir a sociedade que paga uma elevada carga tributária. Mas o que se vê é o Orçamento desperdiçado com gastos exorbitantes que não geraram empregos nem bem-estar. O governo precisa melhorar a qualidade do seu gasto, comprando "vitamina" no lugar de pagar juros não civilizados.
JOÃO SICSÚ é diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor do Instituto de Economia da UFRJ. É autor do livro "Emprego, Juros e Câmbio" (Campus-Elsevier, 2007) e co-autor e organizador do livro "Arrecadação (de onde vem?) e Gastos Públicos (para onde vão?)", Boitempo Editorial, 2007.
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São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007, página 2
CLÓVIS ROSSI
O "jurômetro"

SÃO PAULO - Nada contra o "impostômetro" montado pela Associação Comercial para mostrar o quanto o brasileiro paga de impostos. Mas o placar só ficaria completo se alguém se dispusesse a montar o "jurômetro", o quanto o governo paga de juros aos detentores da dívida pública.
Houvesse tal contagem, o brasileiro ficaria sabendo que é o pagamento de juros o maior responsável pelos números altíssimos do "impostômetro".
No primeiro mandato do presidente Lula, conforme compilação de João Sicsú, economista hoje no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), para a revista "Rumos do Desenvolvimento", os juros comeram R$ 587,9 bilhões. Correspondem a 25% de tudo o que país produziu em 2006, à imponente média de algo em torno de 6% ao ano.
Para comparação, sempre segundo a mesma fonte: com educação, os gastos somaram R$ 62,3 bilhões; com saúde, R$ 136,3 bilhões.
Como lembra freqüentemente Marcio Pochmann, ex-Unicamp, ex-secretário de Marta Suplicy e hoje presidente do Ipea, 80% do que é pago de juros vai para o bolso de apenas 20 mil famílias, a elite da elite, essa que o petismo ama atacar, mas alimenta caprichosamente ano após ano (como o fazia o governo anterior, aliás).
Como diria o próprio Lula, nunca neste planeta se transferiu tanto dinheiro do conjunto dos contribuintes para os ricos mais ricos.
Não há a mais leve perspectiva de que essa transferência maciça seja reduzida nos próximos anos. Logo, fica sendo mais uma bravata sem sentido a tese (de resto correta) de Lula segundo a qual o governo deveria "contratar mais gente, mais qualificada, mais bem-remunerada, porque aí teremos também serviços de excelência prestados para a sociedade brasileira".
É tudo o que não existe nem vai existir no futuro próximo.

29.9.07

Constituição garante ambiente equilibrado, lembra Desembargador Prudente

Padre Edilberto sai animado da conversa com Desembargador




Na tarde dessa sexta-feira o Padre Edilberto Sena, representante da Frente de Defesa da Amazônia (FDA), de Santarém, esteve em Brasília em audiência com o Desembargador Federal Antônio Souza Prudente, do Tribunal Federal Regional, da 1ª Região.

O Desembargador Prudente foi o relator do processo em que o Ministério Público Federal do Pará solicitou o fechamento do porto graneleiro da Cargill, instalado em Santarém sem a realização do devido Estudo de Impacto Ambiental -EIA, obrigatório por lei.
O porto opera desde 2003 com base em liminares obtidas na Justiça, e já embarcou mais de 2 milhões de toneladas de soja, de acordo com os levantamentos do Padre Edilberto.

Embora tenha sido voto vencido em algumas questões, o Desembargador Prudente entende que o Acórdão resultante do julgamento contém questões positivas e importantes para os aspectos ambientais e sociais. A divulgação desse documento no Diário Oficial da Justiça ocorrerá muito em breve, tendo o Desembargador conversado com o Padre Edilberto sobre as questões que se tornaram públicas na sessão de julgamento em que apresentou seu relatório sobre o caso.

De acordo com o representante da FDA, a perspectiva do movimento social quanto à questão agora ficou mais clara, e o próximo passo deverá ser acionar o Ministério Público Federal para que faça a devida apelação com objetivo de paralisar o porto até que o EIA seja concluído e aprovado. E mais, para que a realização desse estudo seja imediatamente determinada pela Justiça, e não fique aguardando para que o processo transite em julgado, o que não se pode avaliar quando irá ocorrer.
O Observatório acompanhou o Padre Edilberto na audiência com o Desembargador Prudente, e realizou a entrevista exclusiva que aparece editada no vídeo acima.

21.9.07

Os homens (e mulheres esmagados com as laranjas) que viram Suco

Já que estamos na filmografia, um título bem nacional: "O homem que virou suco".

Aqui, a culpa é do mercado, segundo justificativa dos produtores e industriais da cadeia de suco de laranja para manter seus trabalhadores em condições vís e recebendo menos que o salário mínimo. Em pleno Estado de São Paulo, não é coisa do Maranhão ou Piauí!

De acordo com a repórter Jucimara de Pádua, da Folha de São Paulo, a “Fiscalização estima que cerca de 3.000 trabalhadores de uma das principais regiões produtoras de SP recebam abaixo de R$ 380”

Informa a repórter que, em 50 propriedades produtoras de laranjas, fiscais do Ministério do Trabalho constataram que grande parte dos empregados na colheita “não têm equipamentos de segurança e são transportados em veículos precários”, além de receberem menos que um salário-mínimo por mês.

Os laranjais visitados ficam na região de Araraquara e São Carlos (interior paulista), que produz 30% da colheita brasileira do fruto, cerca de 100 milhões de caixas de laranja, de acordo com a Folha.

"A situação do trabalhador na lavoura da laranja está pior que a do trabalhador da cana", disse à repórter o subdelegado do Trabalho de São Carlos, Antonio Valério Morilas Junior.

De um lado, a desculpa e descaso

O presidente da Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores), Flávio Viegas, diz que o baixo preço pago pela indústria aos produtores de laranja é o grande responsável pelas irregularidades nos laranjais. A Abecitrus (Associação Brasileira dos Exportadores de Citros) tira o corpo fora, afirmando que não tem nenhuma responsabilidade nas irregularidades.

Segundo Morilas Júnior, da DRT, 95% dos funcionários aceitaram trabalhar ganhando menos que o salário mínimo. Eles recebem de R$ 240 a R$ 360.

O presidente da Associtrus informa que a indústria os paga de U$ 3 a U$ 4 a caixa, quando o custo de produção é de U$ 7. Não conseguimos oferecer melhores condições de trabalho", conclui Viegas.

O presidente da Abecitrus (exportadores), Ademerval Garcia, informou que "a caixa de laranja é comprada pela indústria na porta da fábrica, que não tem responsabilidade pela colheita". Ele diz que o preço da caixa de laranja não está baixo. "É negociado entre produtor e indústria. Seguimos o mercado", conclui Garcia.

Ou seja, se a colheita é realizada por semi-escravos, eles fecham os olhos para isso e esmagam laranjas e homens. O que importa é exportar o suco. Quando começarem a enfrentar barreiras nessa exportação, devido às condições de trabalho degradantes na cadeia produtiva, vão se sentir injustiçados.

Do outro lado, o desamparo

Elio Neves, presidente da Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), disse à FSP que as irregularidades no setor de laranja demonstram o "descaso" com os trabalhadores.

"O agronegócio brasileiro tem a cultura de descumprir os direitos, completou ele à repórter da Folha, e toda vez que a fiscalização afrouxa, as irregularidades aparecem. O suco de laranja brasileiro é competitivo no mercado internacional à custa do trabalho degradante e o não-cumprimento das normas trabalhistas", disse Neves.

Ademildo Luque, 38, que colhe laranjas na região de Itápolis há quatro anos, disse à repórter da Folha que nunca enfrentou situação tão crítica. "A maioria não consegue tirar o salário mínimo porque a laranja está miúda. Trabalhamos o dia todo e com muito custo conseguimos encher a caixa. A safra está ruim." Os trabalhadores ganham por produtividade -o produtor paga R$ 0,31 por caixa colhida de 27 kg.

do Touro Sentado ao Boi voador, passando pelo nosso Capitalismo...

O sui generis capitalismo à brasileira deve ser muito difícil de ser entendido pelos economistas, especialmente aqueles alinhados com a ortodoxia neo-liberal.

Como encaixar o pedido que fazem os usineiros para que o governo intervenha no mercado, como ouvido pelo Ministro da Aricultura em sua reunião com a Comissão Nacional de Cana-de-Açúcar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), quando, de acordo com a Folha de São Paulo (21.09.07), os membros da CNA demandaram “uma presença maior do governo na regulamentação do setor sucroalcooleiro no Brasil”. Diz a Folha que, “no encontro, os produtores de cana reivindicaram ao governo uma regulação mínima do setor para compatibilizar a relação entre produção e mercado...pois os preços médios recebidos pela tonelada de cana estão cerca de 20% abaixo do seu custo”. Segundo eles, “A principal causa da queda nos preços é o excesso de oferta, decorrente da expectativa de aumento de demanda.”
Na hora de ganhar, louva-se o mercado e exige-se que o governo fique fora, não intervenha. Se aumentam a produção visando ganhar mais, o que é natural – mas de acordo com as regras do mercado capitalista maior oferta significa menores preços unitários – então o governo tem que intervir para garantir maior preço!
Enquanto isso, o braço político do conjunto de senhores da terra aproveita mais um momento de fraqueza política do governo Federal para obter vantagens financeiras, (en)rolando suas dívidas em melhores condições, troca essa feita por apoio à continuidade do imposto sobre movimentações financeiras –CPMF, que naturalmente vai contra tudo que esses ditos capitalistas defendem, teoricamente.
Ainda de acordo com a FSP, onde relata o repórter Fábio Zanini:
“Além de distribuir cargos para aprovar a emenda da CPMF, uma das principais ofensivas do governo anteontem, antes da votação, foi feita com a bancada ruralista, uma das mais influentes na Câmara.
Por volta das 17h, quando começava a batalha ...pela aprovação da emenda ..., um grupo de seis líderes ruralistas e um vice-líder do governo era recebido no gabinete do ministro Guido Mantega (Fazenda) por ele e seu colega Reinhold Stephanes (Agricultura).
Ouviram a promessa de que a dívida de R$ 120 bilhões no campo estaria rolada até o fim do ano e a garantia de que 33 mil imóveis de proprietários em débito não serão leiloados (grifos meus).
...
De lá, os deputados partiram para a Câmara. O próprio Stephanes foi ao plenário, por volta das 22h30, quando a votação acontecia. "Faz parte da minha função ajudar a articular."
O repórter perguntou, então, ao Ministro da Agricultura, o que estva fazendo lá na Câmara dos Deputados. Resposta:
- Faz parte da minha função ajudar a articular quando necessário.
FOLHA - O sr. foi articular como? Foi ouvir pedidos de cargos?
STEPHANES - Não. Foi simbólico, para mostrar que estou presente. A maior parte do tempo fiquei sentado.
Até parece que, para articular no Plenário da Câmara, algum Ministro de Estado precisa ficar circulando, de pé: normalmente faz-se uma “romaria” para conversar com o visitante...
Mas enquanto o Touro ficou Sentado na Câmara, no Mato Grosso parece que a boiada está toda voando! Dizem os pecuaristas, de acordo com a CNA, que não foram eles os responsáveis pelo aumento do desmatamento no Estado. Os sojeiros falam a mesma coisa. Quem, então, derrubou tantas árvores que fez a área desmatada duplicar? os preços da carne e da soja aumentaram no mercado internacional, mas os pecuaristas do MT dizem que não têm esse estímulo porque a zona não tem condições de exportar devido à febre aftosa. Já o presidente interino da Federação da Agricultura e Pecuária do MT, Normando Carral, diz que “a pecuária ocorre no cerrado e não na floresta, em áreas propícias para a criação de gado e para a lavoura”.
Parece que esse senhor chegou à Terra agora, simplesmente ignorando a história da pecuária nas últimas quatro ou cinco décadas, quando estimulada por incentivos fiscais penetrou fortemente na Floresta Amazônica. Além disso, sua justifictiva indica que desmatar o Cerrado não tem problema, já que ele não vale nada mesmo, e que sua destruição –além da perda da biodiversidade e das águas que vão desaparecer – não estaria contribuindo, e muito, para o aquecimento global do Planeta.
Aí já chegamos ao boi voador imitando avestruz, enfiando a cabeça dentro da areia para não enxergar o que se passa à sua volta...

19.9.07

O Rato que Ruge, lembram-se do filme?

Bravatas era o que ouvíamos no passado, sem saber que o eram.
Agora, o que será?
De acordo com a FSP, o presidente da República disse, ontem, em encontro dos povos da floresta, que "todo mundo precisa saber que a Amazônia tem dono", e que "aquilo não é terra de ninguém".
Por que ele não diz isso pros grileiros, ou pelo menos não manda a Polícia Federal fazer isso em nome dele?
Outro dia mesmo, juntaram-se os chefes dos poderes Executivo e Legislativo de Juína, no Mato Grosso, com o beneplácito/vista grossa da PM do governador Maggi, e revogaram a Constituição Federal, expulsando ativistas do Greenpeace e jornalistas europeus que o acompanhavam. Revogaram o "direito de ir e vir". O que os expulsos queriam ver? a convite dos índios, iriam visitar uma terra indígena ameaçada de grilagem pelos fazendeiros locais.
Segue o jornal: "Ele falava que no próximo fim de semana irá aos EUA discutir questões climáticas. E desabafou: "eu tenho me recusado a aceitar lições que qualquer governante tem de dar ao Brasil de como preservar as suas florestas".
Engrossar a voz "pros EUA", aqui, e sabendo que ninguém lá presta atenção ou dá valor a falas demagógicas, é fácil (quem viu o grande filme "O rato que ruge"? a grande pergunta era: e se nós ganharmos a guerra, que faremos?).
Difícil é dizer pros grileiros nacionais que aquilo lá "não é terra de ninguém"...

10.9.07

Mercado das Indulgências Verdes

O colunista Marcelo Leite, da Folha de São Paulo, tocou ontem (09.09.07) em um ponto nevrálgico no modismo das compensações ambientais em voga no momento: a compra de créditos de carbono, que ele classifica como "indulgências verdes".

Ele lembra que "está fazendo falta um Lutero para sacudir a igrejinha verde de nossos tempos"...Lutero revoltou-se com a venda de indulgências pelo Vaticano e acabou liderando um cisma que resultou na igreja que levou seu nome.

Mas, prossegue Marcelo:
"A compra e venda de indulgências, no entanto, segue firme. Mudou de ramo, aplacando agora consciências recém-convertidas ao credo ambiental por meio da neutralização de carbono. Parece bem lucrativo, e por ora não se vislumbra o risco moral de um Lutero verde no horizonte."

Encurtando a estória, o colunista coloca em foco as compensações de emissão de carbono das suas atividades que Al Gore e sua equipe de produção do documentário "Uma Verdade Inconveniente" tentaram realizar. A "produção do filme provocou o lançamento de muito gás do efeito estufa na atmosfera. Como Gore e sua trupe são ecologicamente corretos, preocuparam-se em "neutralizar" tais emissões."

Essa "neutralização é, hoje, o must ambiental empresarial. Um especialista "contabiliza todas as atividades relacionadas com o filme que emitem gases-estufa, converte-as para toneladas equivalentes de gás carbônico" e o responsável pela emissão dos gases compra títulos de carbono no mercado.

Marcelo localizou uma reportagem de Alan Zarembo no "LA Times", no dia 02.09.07, que registra que "os 496 dólares e 96 centavos que os produtores de "Uma Verdade Inconveniente" pagaram para neutralizar as 41,4 toneladas de carbono geradas pelo filme não serviram para grande coisa. O intermediário, uma firma chamada Native Energy, empregou o dinheiro para comprar e repassar -com lucro provável de quase 10 dólares por tonelada- títulos de projetos que haviam economizado emissões de gases-estufa na Pensilvânia (geração de eletricidade a partir de metano de esterco de vaca) e no Alasca (eletricidade produzida com turbinas de vento).
O galho, descobriu o repórter Zarembo, é que ambos os projetos iriam ser feitos de qualquer jeito, com ou sem os títulos de carbono. O dono das vacas pretendia ganhar direito vendendo eletricidade extra para a rede e aceitou alegremente, sem negociar, a primeira oferta da Native Energy para comprar as reduções. Algo de similar aconteceu no Alasca.
Johann Tetzel e Al Gore que nos perdoem, mas está fazendo falta um Lutero para sacudir a igrejinha verde de nossos tempos", conclui Marcelo Leite (para ler a coluna completa, exclusivo para assinantes da Folha e do UOL, clique aqui)

Sem dúvida alguma, Marcelo.
Será preciso muito trabalho das pessoas que estão apostando seriamente nesse mecanismo de compensação, para criar mecanismos de monitoramento e levar recursos para projetos que realmente não teriam como ocorrer sem esses aportes de recursos, para que as compensações deixem de ser indulgências ou meros papéis financeiros sem qualquer ligação com a realidade do planeta...

6.9.07

Companheiro Delfim Neto denuncia "patifaria" dos bancos

Karl Marx - história, socialismo

Delfim cita Marx sobre "patifaria" de banco

Mantendo suas raízes de socialista fabiano, declaradas mesmo durante a Ditadura Militar quando exerceu o papel de Czar (muito apropriado, não?) da Economia, o professor Delfim Neto levantou a ponta do véu que esconde os truques contábeis das empresas para lesar acionistas e público em geral.

Segundo reportagem, hoje, na Folha de São Paulo (grifos meus), o "ex-ministro da Fazenda disse que a crise nos mercados está no começo e denunciou a "patifaria dos bancos" estrangeiros. "O sistema bancário vai revelar mais truques contábeis do que o setor industrial. As empresas que transformaram "junk bonds" em AAA são ligadas ao sistema bancário. Existe muito mais patifaria do que foi conhecida."

E segue nosso líder socialista, de acordo com o citado jornal:
"Vai acontecer aquele velho prenúncio que o companheiro Carlos [o economista Karl Marx] dizia: alguns que não cometeram mais irregularidades vão absorver os que cometeram menos irregularidades."

Vejam bem: como profundo conhecedor da teoria e da prática, Delfim cita Marx, reafirmando que alguns que não cometeram MAIS irregularidades vão absorver os que cometeram MENOS irregularidades...

Quem paga pelos erros na política econômica?

Os "de sempre" (acima, na foto),
como dizia o capitão Renault, no filme Casablanca.


Vejam só, car@s amig@s, há organismos das Nações Unidas que teimam em querer que os países desenvolvam todas suas potencialidades e que isso se reflita em suas populações, com melhoria de seus padrões de saúde, educação, de vida, enfim.

Serão jurássicos, cepalinos empedernidos, saudosistas, ou o quê?

Um documento da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento – UNCTAD, denominado "Relatório de Desenvolvimento e Comércio de 2007", que veio a público ontem, afirma que o “câmbio flutuante prejudica” o Brasil.

Conforme relata a repórter Leandra Peres, da sucursal brasiliense da Folha de São Paulo (grifos meus), “A adoção do sistema de metas para a inflação e de taxas de câmbio flutuantes após a desvalorização do real, em 1999, trouxe resultados "decepcionantes" para o Brasil, por haver levado a uma "tendência de valorização da moeda e deterioração da competitividade global".

A reportagem cita, também, que não apenas o Brasil entrou nessa fria mas, também, países que adotaram a mesma metodologia – como México, Turquia, África do Sul e Hungria – encontram-se na mesma difícil situação.

Capital especulativo

A valorização da moeda está ligada às altas taxas de juros, que atraem o capital especulativo internacional, diz a UNCTAD. Ou seja, a valorização da moeda local frente ao dólar nada tem a ver com a economia real, com a economia do país estar “mais forte”, ou por ter o governo “feito o dever de casa” (determinado pelo FMI) e ter a economia e inflação sob controle.

O documento da UNCTAD vai além da crítica apenas, conforme relato de Leandra Peres, propondo a solução: “a criação de um sistema mundial de monitoramento do câmbio. Mas, conclui a repórter, “como até a Unctad considera essa saída pouco provável, (esse organismo das Nações Unidas) defende que os países em desenvolvimento taxem os capitais especulativos e façam intervenções no câmbio para evitar a valorização excessiva.”

Com licença do Nassif, pergunto: e os "cabeças-de-planilha" governamentais, com posições de direção na política econômica, porque não são responsabilizados por seus erros?

5.9.07

Qual é o tamanho da "vara"?

Estão cutucando uma sombra que pode ser uma onça com uma vara de tamanho desconhecido, só para testar se é onça realmente ou um cachorro morto?
Essa é a impressão que dá ao leitor a seguinte notícia veiculada no jornal O Estado de São Paulo:
Diz o Estadão, hoje (grifos meus -MG): "Ipea tem mais um diretor desenvolvimentista"
ADRIANA CHIARINI - Agencia Estado
"RIO - O economista João Sicsú, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi apresentado esta semana aos funcionários do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), como novo diretor de Estudos Macroeconômicos. Ele substitui Paulo Levy, que estava no cargo desde o início do governo Lula, em 2003, e é funcionário de carreira do Ipea."
.....
Tanto Pochmann quanto Sicsú são da linha desenvolvimentista, assim como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Ao contrário do moderado Paulo Levy, que demonstrou, em sua gestão, grande preocupação com a questão fiscal.
E prossegue a matéria, na linha de outras que pulularam a imprensa e as suas colunas econômicas quando suas "fontes" sentiram que poderiam ter que limitar sua fala aos trabalhos efetivamente do IPEA, e não poderem "misturar" a griffe IPEA com trabalhos feitos para outras fontes...
Vejam a sutil cobrança:
"O Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC), que elabora o Boletim de Conjuntura do Ipea - com previsões que nem sempre coincidem com os dados do governo divulgados pelos Ministérios da Fazenda e do Planejamento -, é subordinado à Diretoria de Estudos Macroeconômicos. Levy tinha sido coordenador do GAC antes de passar a diretor. Sicsú ainda não anunciou o que fará com o GAC."
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

4.9.07

Só enxergam o que querem ver...

O jornal Valor Econômico, em sua edição de hoje, estampa o seguinte título:
"Estudo diz que pecuária desmata a Amazônia, e não a soja".

A partir de um estudo do economista Julio Miragaya, que ocupa a
coordenação-geral de Planejamento e Gestão Territorial (CGPT), do Ministério da Integração Nacional, a matéria bate mais uma vez no ponto repisado por todos os defensores do agronegócio no Brasil (ia escrever "brasileiro", mas corrigi a tempo...): que não é a soja que desmata a Amazônia mas, sim, a pecuária.
Acho que eles continuam errando no argumento, pois deveriam ter mantido o refrão anterior, de que não é o gado que desmata a Amazônia, mas sim os madeireiros é que derrubam as árvores...
Ora, vejam trechos da citada reportagem (os negritos e itálicos são meus):
"A gente fica batendo na tecla errada, esquece o efetivo responsável e acaba adotando políticas públicas erradas", afirma Julio Miragaya, autor do estudo. "O fantasma da Amazônia não é a soja, é a pecuária".
.....
"Miragaya salienta que o avanço do plantio de soja em áreas que antes eram ocupadas pela pecuária, sobretudo no Centro-Oeste, forçou o avanço do gado para as áreas amazônicas. Esse efeito indireto, segundo ele, teria sido equivalente a 4,62 milhões de hectares (ou 15% das áreas utilizadas para o agronegócio)."
....
"Ao contrário dos nossos concorrentes, o Brasil tem terras demais. E para onde o gado está indo? Para a Amazônia, enquanto nas demais regiões do país os rebanhos estão em declínio", diz.
"É o que se conhece como movimento de "subida do boi". Expulsos por culturas mais rentáveis do sul, sudeste e centro-oeste do país, os rebanhos bovinos encontraram na região amazônica condições ideais para crescer: terras baratas (em muitos casos griladas), solos e clima impróprios para lavouras em algumas localidades. A falta de infra-estrutura, indispensável para as grandes plantações de grãos, é outro fator que explica esse movimento."
.....
"O estudo mostra que o impacto (direto, observação minha-MG) da soja ainda é bastante limitado em relação ao desmatamento provocado por outros setores do agronegócio. "

"Não é a pecuária a responsável pela invasão na região amazônica", contesta o sr. Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), na mesma matéria do Valor Econômico. Segundo ele, "Falta na região um melhor controle do direito de propriedade. Muitas das propriedades não têm título e é isso que gera a disputa pela terra e fomenta a invasão de áreas". Para o presidente da SRB, no entanto, não há necessidade de se criar um zoneamento por culturas da região amazônica. "O próprio mercado decide se vale a pena plantar ou não", diz, citando como referência a moratória da soja assinada pelas indústrias esmagadoras, que se comprometeram a não comprar grão produzido em áreas desmatadas do bioma amazônico.

Depois de ler esses trechos, será que ainda fica de pé a "inocência" do avanço da fronteira agrícola da soja com relação à "culpa" do desmatamento? segundo as palavras do citado autor, a soja ocupou as terras no Centro Oeste onde estava o rebanho bovino e o expulsou para o Norte, e para alí entrar a pecuária teve que desmatar...Ora, pois!

Você sabia que em 2010 vamos eleger parlamentares ao ParlaSul?

(E/D): o integrante da representação brasileira no Parlamento do Mercosul, senador Aloizio Mercadante (PT-SP); o vice-presidente brasileiro no Parlamento, deputado Dr. Rosinha (PT-PR); e o presidente do Parlamento do Mercosul, o deputado uruguaio Roberto Conde, em Montevidéu - Uruguai. Fotógrafo: Leopoldo Silva - Agência Senado

Eu só fiquei sabendo agora, como sou ignorante em matérias do MercoSur (como escrevem nossos amigos de fala castellana)!!!
Quem você pretende mandar para lá? para fazer o quê? já pensou nas políticas necessárias para efetivamente criar um bloco coeso, integrado e com economias complementares porém competitivas e equilibradas, quase como a União Européia? que tarefa daremos aos nossos representantes, ou eles repetirão o que vemos em nossos próprios parlamentos, representando interesses que não os nossos?
Hoje, até a Agência Senado esqueceu esse encontro de Montevideo, só tendo informado até agora (20h) a abertura das sessões.
Em compensação, na área internacional da página em castellano do Senado, a informação é do dia 30 pp!! mas contém uma declaração importante do presidente de nossa delegação. Reproduzo em castellano:
"La legitimidad del Mercosur sólo será plena, en la opinión del senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC), cuando la sociedad brasileña tenga mayor conocimiento del proceso de integración con los países vecinos. Electo recientemente presidente de la Representación Brasileña en el Parlamento del Mercosur, pretende estimular el debate sobre el tema en todo el país.
- Necesitamos iniciar la marcha y conversar con empresarios, trabajadores y la sociedad organizada - afirmó Mesquita en entrevista a la Agencia Senado.
Está faltándole un poco de legitimidad al Mercosur. El surgimiento del parlamento le da alguna legitimidad al proceso. La burocracia del Mercosur tiene cierta legitimidad, pero la legitimidad sólo será plena cuando el pueblo brasileño comprenda lo que está pasando.
El senador recordó también que en 2010 los electores brasileños escogerán por el voto directo, por la primera vez, a sus representantes en el Parlamento del Mercosur, que tiene sede en Montevideo."

E a única notícia de hoje:
04/09/2007 - 10h46 - Mercosul
Começa a reunião do Parlamento do Mercosul
Começou há pouco a segunda parte da quinta sessão ordinária do Parlamento do Mercosul, em Montevidéu. O presidente do Parlamento, deputado Roberto Conde, abriu a reunião anunciando que as comissões permanentes começariam a funcionar ainda hoje, uma vez que na noite de segunda-feira se alcançou um acordo sobre a distribuição das presidências das comissões entre os paises membros do bloco. A delegação brasileira ficará com o comando de três comissões: Assuntos Econômicos, Financeiros, Comerciais, Fiscais e Monetários; Desenvolvimento Regional Sustentável, Ordenamento Territorial, Habitação, Saúde, Meio Ambiente e Turismo; e Educação, Cultura, Ciência, Tecnologia e Esportes.
Código da notícia:16587
(da Agência Senado)

3.9.07

Brasil não dá bola para ParlaSul


Depois de ler a notícia, pela manhã, na página do Senado, tive que procurar com lupa e muito tempo gasto nos sítios dos jornalões, para ver se algum informava o que havia ocorrido na reunião do Parlamento do Mercosul, que está acontecendo em Montevideu, no Uruguai. Na pauta, liberdade de imprensa na Venezuela de Chavez e a "guerra" das "papeleiras' entre Argentina e Uruguai...
Os sítios dos paulistanos Estadão e FSP desconheceram totalmente o encontro e percebe-se que, para eles, os leitores brasileiros devem achar muito melhor saber que, pela primeira vez em 522 anos de existência, uma mulher compõe a guarda de Sua Majestade, a Rainha da Inglaterra...
Já o sítio do carioca O Globo, o G1, dá na lista de notícias internacionais, bem escondido, sem qualquer destaque, duas matérias originadas da agência de notícias espanhola EFE, depois das 20h, enquanto a Agência Senado já praticamente havia disponibilizado o conteúdo principal ants das seis da tarde.
Os dois assuntos mais "quentes", Liberdade sob Chavez e as "papeleiras", saíram rapidamente da pauta, nem sequer foram discutidos...
(foto: Plenário do ParlaSul reunido em Montevideu, 03.09.07 -fotógrafo Leopoldo Silva - Agência Senado.
Nota:"Avanço" tecnológico na postagem de fotos graças às luzes oriundas do amigo jornalista Marcos Rocha, velho companheiro de redações e butecos em BH. Vejam seu blog: http://planogeral.blogspot.com)

29.8.07

Veja o vídeo da truculência em Juína, MT

O Greenpeace produziu um vídeo com as imagens da truculência que ocorreu em Juína, MT. (comentado anteriormente no post Juína, MT: "autoridades" desconhecem Constituição Brasileira)
As imagens registram como o prefeito local revogou direitos fundamentais dos cidadãos garantidos pela Constituição Federal, e a violência que impera na região.
Polícia Federal neles!
Veja aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=q9esNX7bzHY

Bem-vinda, Profª Conceição!

Ontem, a professora Maria da Conceição Tavares voltou a dar aula pública, o que é uma ótima notícia para todos que, como eu, nas últimas quatro décadas, aprenderam a admirá-la por sua lucidez, coragem e fala sem "papas na língua"!

Percebi, na reportagem realizada pela Folha de São Paulo, que ela ainda não encontrou melhor explicação para o "aquecimento" da economia brasileira (e a forte demanda por bens de consumo duráveis e não duráveis, acrescento eu) que vá além da oferta de crédito (com maior prazo de pagamento, MG) e do maior poder de compra do salário mínimo.

Eu achava que -um pouco afastado da economia macro no último decênio, lidando mais com questões ambientais - não estava conseguindo discernir bem o que está se passando. Essa declaração da Conceição foi um grande alívio para mim, que estava me sentindo obnubilado, enferrujado.

De acordo com reportagem de Janaína Lage, na FSP de hoje, 29.08.07, Conceição afirma que "o país está vivendo um ciclo de crescimento desde 2006, com aumento do crédito e do salário mínimo. Esses fatores reativaram o mercado interno, mas, segundo ela, ainda restam dúvidas sobre o modelo de desenvolvimento do país, principalmente com os gargalos na infra-estrutura."

Leal ao presidente da República e ao seu partido, ela procura uma comparação engrandecedora para a paralisia governamental, ao afirmar que o "PAC vai rastejando assim como as metas de JK [de fazer o pais "avançar 50 anos em 5".] rastejaram no começo".

A falta de um Plano, de uma proposta de futuro para o País, não mereceu críticas da querida professora, como certamente ocorreria no passado. Para compensar, muito pessedista mineira (!!) afirmou, de acordo com a citada repórter, que "Sem a solução para os gargalos ... fica difícil antever o cenário de longo prazo ... e que ainda não é possível prever se a reativação do mercado interno é um ciclo de curta expansão ou duradouro.

"Isso aqui não é a Argentina ou o Chile", afirmou, em referência à hipótese de desindustrialização, certamente com seu tom de sempre, sem se preocupar com as questões partidárias ou da diplomacia.

Mais uma vez, bem-vinda, professora Conceição, não volte a ficar quieta e que sob seus holofotes volte a iluminar seus eternos alunos!

28.8.07

Os velhos mecanismos de destruição e concentração do Capital

O velho barbudo analisou muito bem os mecanismos de avanço do sistema capitalista, e ressaltou os seguidos movimentos de destruição e concentração do capital.
Lendo as notícias de hoje sobre o agronegócio, no site Sonotícias/Agronoticias (http://www.sonoticias.com.br/agronoticias/), essa engrenagem fica clara nas palavras do repórter, ainda que ele possa ignorar o que escreveu o velho pensador.

A notícia, na realidade, vem do jornal Valor Econômico, e diz que os médios e grandes produtores de soja apostaram alto e estão perdendo, com a única solução para ficarem solventes sendo a venda de suas terras para o "mega-produtores" (com mais de 100.000 hectares de plantio).

E dentro do próprio setor, a perspectiva é -de acordo com o produtor José Nardes -de que "Em dez anos, Mato Grosso vai estar nas mãos de 15 ou 20 mega-produtores".
Vejam um extrato da notícia do Valor Econômico, transcrita pelo Agronotícias:

"Cresce ainda mais a concentração na produção agropecuária em Mato Grosso
28 de agosto de 2007 - 09:50h
Autor: Valor Econômico

Principal produtor de grãos e fibras do país, Mato Grosso experimenta um momento de aprofundamento da concentração da produção agropecuária. Grandes produtores foram levados a deixar o processo produtivo por causa do recente período de crise de renda no segmento de grãos. Nos últimos três anos, os mega-produtores do Estado avançaram sobre 1,3 milhão de hectares de terras produtivas, segundo analistas do mercado financeiro e de agentes locais ouvidos pelo Valor. Nas próximas safras, outros 1 milhão de hectares em mãos de médios produtores podem mudar de donos.

A elevação nos custos de captação do dinheiro, o atraso na entrega de insumos e a redução do volume de crédito levaram cerca de 500 grandes e médios produtores de Mato Grosso a sair da atividade. O agravamento das dificuldades na gestão das propriedades transferiu pelo menos 600 mil hectares a outros produtores. Em Primavera do Leste, no sul do Estado, apenas seis produtores detêm metade dos 320 mil hectares de lavouras. "Em dez anos, Mato Grosso vai estar nas mãos de 15 ou 20 mega-produtores, prevê o produtor José Nardes, presidente do sindicato rural do município, que arrendou 6 mil de seus 7,5 mil hectares a outros colegas.

Os investimentos pesados em maquinários e a abertura de novas áreas de produção geraram uma dívida em reais, mas na quitação dos débitos houve frustração de safra, sem a devida cobertura de hedge cambial. "Vamos fazer caixa e pagar os credores que faltam", diz o empresário e prefeito de Rondonópolis, Adilton Sachetti. Dona de um dos maiores empreendimentos rurais do Estado até 2005, a família planta hoje apenas 3 mil dos 70 mil hectares outrora cultivados. Foram arrendados, por meio de parcerias, 22 mil hectares.

A procura por mais terras não pára, e os preços têm subido. Um hectare custa hoje até R$ 5 mil em áreas mais cobiçadas. Antes, havia negócios entre R$ 2 mil e R$ 3 mil. O movimento beneficia os tradicionais arrendamentos e o novo sistema de parcerias, onde quem tinha mais capital fez um acordo para tocar as operações e dividir os lucros. "Mas até agora os resultados não têm chegado para quem cedeu a terra", critica Carlos Ernesto Augustin, grande produtor da Serra da Petrovina, que não aderiu às parcerias. "É um modelo insustentável a médio prazo. Quem fez parceria dificilmente volta a produzir novamente", reforça o produtor Rogério Salles, de Rondonópolis, outro crítico do processo.

Mesmo com a melhora na situação financeira do setor, a concentração deve continuar. No mercado local, estima-se que uma parte dos 5 mil médios produtores de soja no Estado, cujas fazendas têm entre 500 e 2 mil hectares, ainda corre risco de deixar a atividade nas próximas safras.

A "classe média" segue pressionada pelo menor poder de barganha com tradings, multinacionais de defensivos e fertilizantes, além de bancos. A situação é agravada pela demora do governo em fazer chegar ao campo a ajuda anunciada. .... Há 300 grandes produtores, que plantam de 10 mil a 15 mil hectares, prontos para arrebatar as terras dos menores. "Sem dúvida, esse movimento preocupa muito", diz Olímpio Vasconcelos, gerente de Mercado de Agronegócios do Banco do Brasil em Mato Grosso.

Os problemas decorrem, sobretudo, de complicações cambiais e climáticas. Nas últimas três safras, os produtores plantaram com a cotação de dólar em alta e colheram na baixa. Até 2004, quando começou a crise de renda, os produtores administravam seus passivos com a abertura de novas áreas. Com demanda em alta e a margens crescentes, havia ânimo para ampliar as operações. Mas os custos de produção dispararam. Atreladas ao real, mão-de-obra e óleo diesel desequilibraram ainda mais as finanças.

O governador do Estado, Blairo Maggi (PR), acredita que a tendência da concentração está "estancada" no curto prazo. "Essa tendência já parou de crescer. Não vamos avançar mais do que isso", diz Maggi, cujo grupo é apontada como o maior produtor mundial de soja em 130 mil hectares. "São contratos de cinco anos. O produtor saiu da ciranda financeira, mas vai voltar a produzir". Dono da Vanguarda do Brasil S.A, o mega-produtor Otaviano Pivetta planta 170 mil hectares de soja, algodão, milho e arroz em onze fazendas. Sua empresa, que tem faturamento de US$ 197 milhões, já incorporou 40 mil hectares em parcerias com outros produtores. ...

... mega-produtores como os irmãos Eraí e Eliseu Maggi Scheffer, primos de do governador Blairo, já concentram mais de 250 mil hectares, boa parte cultivada no sistema de parceria - 22 mil da família Sachetti. Outro grande produtor, Nelson Vígolo, de Rondonópolis, também entrou nas parcerias e já ultrapassou a marca de 120 mil hectares plantados."

27.8.07

Juína, MT: "autoridades" desconhecem Constituição Federal

A gente sabia que o Faroeste reinava na Amazônia, mas fatos como esse que ocorreram em Juína, MT, abaixo descritos, não deixam de chocar, revoltar e indignar.

É preciso que o Estado Nacional esteja presente na região, e que "autoridades" locais como as de Juína, além de pessoas truculentas e agressoras como essas sejam processados e punidos com o rigor da lei.
Minha total solidariedade com os companheiros do Greenpeace, da OPAN, o povo indígena Enawene Nawe, os funcionários da FUNAI e os jornalistas que os acompanhavam.

É preciso que organizações como FBOMS, OAB nacional (pois um representante local da OAB foi, no mínimo, conivente com tudo), ABI, FENAJ, entre outras, manifestem sua indignação e repulsa com os autores desses constrangimentos ilegais. Membros da Câmara e do Senado, bem como as instâncias superiores do Poder Judiciário também devem ser mobilizados.

Vejam, a seguir, descrição dos fatos enviada por Paulo Adário, que chefia o projeto Amazônia do Greenpeace:
Data: Domingo, 26 Aug 2007

Meus caros:

O caso a seguir se refere a ameaças à Operação Amazônia Nativa (OPAN) e ao povo indígena Enawene Nawe, bem como a jornalistas internacionais e à equipe do Greenpeace que os acompanhava a Juína (MT) - ameaças estas feitas por representantes do poder público local e por fazendeiros da região nos dias 20 e 21 de agosto. No dia 23, já em segurança em Cuiabá, apresentamos denúncia formal ao Ministério Público Federal, solicitando providências que garantam a integridade física dos membros da OPAN, que apóiam os Enawene; dos próprios indígenas ameaçados, e que assegurem o respeito ao direito constitucional de ir e vir e a liberdade de imprensa. Os fatos narrados resultaram na expulsão, por um grupo de fazendeiros e políticos locais, de dois representantes da Opan, dois jornalistas franceses e uma jornalista brasileira, um cinegrafista canadense, um fotógrafo brasileiro e dois ativistas do Greenpeace, entre eles o jornalista e coordenador do Greenpeace na Amazônia, Paulo Adario. Como comprovação dos fatos, apresentamos ao procurador Mario Lucio Avelar, do MPF-MT, um DVD com cerca de duas horas de imagens feitas em Juína.
O texto abaixo faz parte do documento entregue ao Procurador Federal.

Dos fatos:

Na tarde de 20 de agosto de 2007, domingo, avião do Greenpeace com a equipe de jornalistas pousou no aeroporto de Juína. Nos dirigimos ao Imperial Palace Hotel, onde encontramos os integrantes da OPAN, Edison Rodrigues de Souza e Juliana de Almeida.

O Greenpeace está documentando desmatamentos e queimadas na Amazônia. Nosso grupo estava de passagem pela cidade em direção à terra indígena Enawene Nawe. O objetivo da escala em Juína e ida à aldeia Halatakwa, situada na TI Enawene Nawe, era fazer um trabalho jornalístico para mostrar que aquele povo indígena - que vive de agricultura e pesca - tem uma convivência sustentável com a floresta e a diversidade biológica apesar de fazer pequenos desmatamentos para suas roças e barragens provisórias para a captura de peixes. A ida à aldeia foi autorizada pela liderança indígena que, em contrapartida, pediu que levássemos alguns líderes para sobrevoar a região onde está prevista a construção de PCHs que poderão impactar os rios de onde retiram seu alimento. Os jornalistas franceses documentavam ainda o trabalho do Greenpeace e a relação entre a entidade ambientalista e grupos locais.

No final da tarde de domingo, pouco depois de nossa chegada ao hotel, fomos abordados por três fazendeiros - dois homens e uma mulher - querendo saber quem éramos e o que estávamos fazendo em Juína. Entre os fazendeiros estava o sr. Aderval Bento, que se apresentou como presidente da associação dos produtores rurais do Rio Preto (Aprur). Ele queria saber se nós éramos antropólogos de um grupo de identificação da área do Rio Preto. Segundo ele, a área onde estão localizadas suas fazendas é reivindicada pelos indígenas Enawene Nawe, e que essa demanda seria estimulada pela OPAN. O sr. Bento fez duras críticas à organização. Esclarecemos que ele estava equivocado, que nosso destino era a aldeia indígena e não a região do Rio Preto, e nos identificamos como jornalistas. Suspeitamos que nossa presença tenha sido comunicada aos fazendeiros pelo proprietário do hotel, um senhor de origem portuguesa que teria uma propriedade no Rio Preto, informação que não podemos confirmar.

O representante da Opan Edison disse que são os indígenas quem reivindicam a reintegração de parte do território tradicional que teria ficado de fora da demarcação e que contém uma área de pesca cerimonial, fundamental nos rituais sagrados dos Enawene. Segundo Edison, a Opan não os estimula a reivindicar a área do Rio Preto. Essa informação nos foi confirmada posteriormente, em Cuiabá, pelo coordenador geral da Opan, Ivar Busato.

Os três fazendeiros disseram do tipo “Então é o você o Edison, que está por trás disso tudo”. O comentário nos pareceu conter uma ameaça velada ao representante da Opan.

Os fazendeiros ficaram ainda mais irritados quando souberam que jornalistas integravam o grupo que estava no hotel. Disseram que havíamos ido lá levados pela Opan, o que, como foi explicitado acima, não é correto. Nos foi dito claramente pelo grupo de fazendeiros que eles iriam se opor ao processo de reconhecimento da área e não iriam admitir a perda das terras que dizem ser suas. Foi uma conversa tensa.

Na manhã seguinte, o hotel onde estávamos foi cercado por mais de uma dezena de fazendeiros, entre eles o presidente da Câmara Municipal de Juína, que exigiram esclarecimentos sobre os objetivos de nossa viagem. Foi-lhes explicado que a viagem não se destinava à área em disputa mas à aldeia indígena Halatakwa, situada na TI Enaewne Nawe, terra essa já demarcada e homologada pelo governo federal. Os fazendeiros não acreditaram. Um deles segurou Paulo Adario pela gola da camisa, ameaçador. O presidente da Câmara exigiu que o coordenador do Greenpeace se identificasse e abandonasse a idéia de ir à terra indígena. Tanto o pedido inusitado de identificação quanto a proposta de abandonar nosso objetivo foram rejeitados por serem descabidos. O grupo visitante foi intimado pelos fazendeiros e o presidente da Câmara a seguir para a Câmara Municipal, onde uma sessão especial foi rapidamente organizada por convocação dos fazendeiros e do presidente da Câmara. Naquelas circunstâncias, sentimo-nos coagidos a obedecer para evitar conflitos que inviabilizassem a viagem e aumentassem os riscos a que estão submetidos tanto a Opan quanto os Enawene.

A reunião na Câmara foi longa, tensa – durou cerca de 6 horas – e marcada por ameaças diretas ou veladas. Estavam presentes o prefeito da cidade, Ilton Campos; o presidente da Câmara, conhecido como Chicão; o presidente da OAB local, o presidente da associação dos fazendeiros da região do Rio Preto, Aderval Bento; um senhor que foi anunciado como presidente da Associação Comercial, Geraldo Bento; o diretor da Fiest e presidente do sindicato dos madeireiros, Paulo Perfeito; vários vereadores e mais de 50 fazendeiros. E também a polícia, além do tenete-coronel PM Gil, comandante do Comando Regional VIII da Polícia Militar da região. A sessão variou entre um debate e um clima de interrogatório policialesco pleno de ameaças. Os fazendeiros repetiram que a entrada do grupo na terra Enawene Nawe não seria permitida e que seria “perigoso” insistir na viagem. Foi dito que todas as lideranças locais, a polícia e o judiciário estavam com os fazendeiros. Esmurrando a mesa, o prefeito Hilton Campos afirmou os visitantes não eram bem-vindos a Juína e que ele não iria permitir a ida do grupo para o Rio Preto em hipótese alguma, sendo aplaudido fervorosamente pelos colegas fazendeiros. Ele chegou a afirmar que a estrada seria bloqueada mesmo depois de termos declarado de que essa não era não era nossa intenção. O senhor Aderval Bento ofereceu como alternativa uma ida à TI Arara, mas não aos Enawene, proposta que também foi recusada por caracterizar intromissão indevida no direito de imprensa. O presidente da Câmara, sr. Chicão, disse, ameaçador, que “se sair a ampliação da terra indígena, o conflito será inevitável. Várias dessas declarações e ameaças estão gravadas no DVD.

Depois de reiterar a natureza da viagem, o coordenador do Greenpeace disse que aquela reunião era uma clara demonstração de que o direito constitucional de ir e vir e a liberdade de imprensa não valiam em Juína.

Para evitar maiores conflitos e por estar a ida de barco, que leva mais de 6 horas, à TI Enawene Nawe inviabilizada àquela hora, a viagem foi cancelada. Nosso grupo, então, se retirou e se dirigiu ao local de encontro com os Enawene, uma ponte sobre o Rio Preto a 60 km de distância de Juína, para dar a eles combustível e comida para a sua volta à aldeia e anunciar o cancelamento de nossa viagem. O combustível foi estocado em barris hermeticamente fechados para evitar riscos e levado na carroceria aberta de uma pick-up, como é praxe na região.

A viagem foi feita sob escolta policial. Mas nem isso evitou que os fazendeiros, que acompanharam a viagem de ida e volta em oito caminhonetes lotadas, continuassem intimidando e ameaçando o grupo visitante. Ao chegar a Juína, nosso grupo se dirigiu ao hotel para saldar a conta e partir. Curiosamente, as linhas telefônicas que permitiriam o pagamento com cartão de crédito não funcionavam. O piloto do avião que havia vindo nos buscar nos informou pelo celular que só poderia decolar até o pôr do sol. A seguir ligou novamente para avisar que uma pick-up branca havia chegado ao aeroporto vazio, o que lhe pareceu suspeito. Foi-lhe recomendado que decolasse e voltasse para Vilhena (RO), garantindo assim tanto a segurança do avião quanto a do piloto. Nosso grupo se refugiou no hotel, de onde não pudemos sair nem para comer por falta de segurança. Uma viatura da Polícia Militar ficou na área. Os soldados PM não impediram que o fotógrafo Alberto César fosse agredido depois de tentar documentar a agressão de um fazendeiro ao indígena Ameiro Enawene, que havia chegado ao local dos fatos para ver o que acontecia. Ameiro integrava um grupo de sete Enawene que estava na cidade em tratativas com o posto local da Funai. Todos foram coagidos pelos fazendeiros. O fotógrafo Alberto César se refugiou no hotel, que foi invadido por alguns fazendeiros. Eles foram contidos e retirados do local por policiais militares.

Nosso grupo foi advertido a não deixar o hotel e partir de Juína o mais rápido possível, o que caracteriza claro constrangimento ilegal, impedimento ao direito de ir e vir e ameaça à integridade física. Para assegurar isso, os fazendeiros fizeram uma vigília em frente ao hotel durante toda a noite. Eles se reuniram no bar em frente ao hotel, onde bebiam e faziam ameaças e ofensas à Opan, aos Enawene e aos visitantes. Edison, da Opan, narrou que foi intimidado pelos fazendeiros, que proferiam ameaças como “Vocês merecem ser amarrados e arrastados pelas ruas em caminhote para servir de exemplo”, ou “Se sair a demarcação, você (Edison) e Ivar terão de sumir do Brasil,
porque vamos achar vocês em qualquer canto” (ele se referia a Ivar Busato, coordenador geral da Opan). Edison disse ter ouvido também que não tinha sete vidas e devia tomar cuidado. Foi dito pelos fazendeiros que se os indígenas entrarem no Rio Preto para pescar, “vai morrer índio lá” e que “qualquer índio que morrer será de responsabilidade da Opan”. Lamentavelmente não pudemos gravar essas acusações devido a ameaças de que nossas câmeras seriam quebradas.

No início da noite de segunda-feira, a viatura policial que estava em frente ao hotel se retirou. Preocupado com o fato de o grupo de fazendeiros parava de crescer, o coordenador do Greenpeace telefonou ao coronel Gil e pediu ajuda. O coronel se dirigiu ao hotel, tentou tranquilizar Adario e disse que Juína era uma cidade ordeira e pacífica. Disse também que seria melhor não sair do hotel e se prontificou a comprar comida para nos alimentar. A proposta foi gentilmente recusada, já que a nosso ver caracterizava ainda mais o absurdo da situação, além de confirmar nossos temores. Mas foi solicitado ao coronel, que atendeu prontamente, a presença de uma viatura policial em frente ao hotel durante a noite, para evitar invasões e agressões por parte dos fazendeiros. Na terça-feira, dia 21, por volta de seis e meia da manhã, nosso grupo, acompanhado por duas viaturas policiais que em tese nos protegiam, se dirigiu ao aeroporto.

O ritual de expulsão e humilhação a que fomos submetidos incluiu um cortejo de 30 caminhonetes de luxo, entre elas Toyotas e Mitsubishis lotadas de fazendeiros, que nos escoltaram até o destino final, atravessando a cidade com faróis acessos e buzinando sem parar, enquanto os ocupantes nos insultavam e ameaçavam. Ao chegar ao aeroporto fomos advertidos por fazendeiros a decolar imediatamente, ou o avião seria atacado. Nossa proteção foi feita pelos soldados PM, que estavam em número muito inferior aos atacantes. Mais tarde fomos informados pelo funcionário Fabrício, da Funai de Juína, que o grupo de Enawene que estava na cidade tentou se dirigir ao aeroporto para nos apoiar, mas a estrada foi bloqueada por caminhonetes dos fazendeiros, que os ameaçaram. Segundo Fabrício, depois que decolamos, os fazendeiros, de volta à cidade, invadiram a sede local da Funai.

Ao mesmo tempo em que os governos federal e estadual celebram a queda das taxas de desmatamento na Amazônia, o episódio em Juína mostra que a sua presença ou é rala ou ainda está muito longe da região, enquanto autoridades locais agem como verdadeiros xerifes da floresta e senhores do direito alheio. Consideramos inaceitável que fazendeiros, com o apoio de autoridades locais, cerceiem a liberdade que todo cidadão tem de ir e vir e revoguem a Lei de Imprensa, cassando o direito de jornalistas exercerem sua profissão com segurança. Nos preocupa enormemente o clima de violência anunciada, as ameaças de morte aos indígenas Enawene e à Opan.

Em nossa petição ao MPF, pedimos a apuração dos fatos e a determinação de providências para que os povos indígenas como os Enawene; e as entidades que os apóiam, como a OPAN e a Funai, tenham assegurados o direito à vida, ao trabalho e à defesa de seus interesses. E que a disputa pela terra e pelos recursos florestas em Juína possa ocorrer de forma democrática e pacífica, assegurados os direitos e deveres dos grupos em disputa consoante com a Constituição Brasileira; que seja assegurado ao Greenpeace o direito de exercer sua missão e dever de defender a Amazônia, de acordo com o parágrafo 225 da Constituição Federal; e que jornalistas tenham assegurado o direito de exercer sua função em liberdade, como reza a Lei de Imprensa.

É isso ai.

Paulo Adario

24.8.07

As BINGOs e o movimento socioambiental brasileiro

O blog do Luis Nassif, http://luisnassif.blig.ig.com.br, reproduz um artigo enviado por um leitor, chamado "As ONGs ambientais, de Gustavo Faleiros e Andreia Fanzeres, publicado originalmente em O Eco (http://www.oeco.com.br).

Essa matéria, por sua vez, refere-se a recente artigo publicado na revista Science, onde a atuação das Big International Non Governamental Organisations -conhecidas como BINGOs, é criticada. A nossa querida Suzana Pádua, presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), é uma das autoras do artigo.

Ainda não o li, mas compartilho desse sentimento comum a uma parte das pessoas que trabalham no setor (ONGs ambientalistas ou socioambientais brasileiras), mas sempre é preciso melhor qualificar e evitar generalizações, para não cometer injustiças. E nada melhor que explicitá-lo, como propôs já faz algum tempo Don Sawyer (ISPN), até para "educar" (termo que as BINGOs gostam de usar) os dirigentes de seus escritórios no Brasil.

Ainda vou ler o texto, para depois comentar com mais precisão, mas já adianto abaixo algumas questões que acho importantes (e que fizeram parte de meus comentários no blog do Nassif):

Em 1993, aposentado no IPEA, mergulhei em um mundo para mim totalmente desconhecido, o das ONGs ambientalistas.

Depois de "apanhar" muito, pois sempre falei o que pensava, aprendi como funciona esse ambiente muito particular: visto de fora é difícil, quase impossível, distinguir diferenças significativas entre as organizações. Mas elas são abismais, sob muitos aspectos, particularmente na questão do financiamento de suas atividades.

Como toda criação social, existem organizações sérias e outras nem tanto...Separar as pedras do feijão (prefiro essa expressão a "joio do trigo"..) só com alguma vivência no setor, acompanhada de senso crítico e independência.

As BINGOS detêm praticamente todo "marketing" do setor, com raras exceções para ONGs nacionais como SOS Mata Atlântica (ISA e Ipê em fase de crescimento). E isso reflete-se, naturalmente, no espaço ocupado na imprensa e na capacidade de cada uma conseguir financiamento para seus projetos. Há uma evidente "disputa de mercado", especialmente porque as fontes de financiamento desejam ver seus projetos na mídia, para também, por sua vez, poderem explicar suas aplicações aos doadores...

A atuação dessas BINGOS no Brasil depende e varia muito de acordo com quem está à frente de seus escritórios em nosso país. Além disso, algumas pretendem ser mais "científicas", deixando de lado as questões chamadas "políticas" ou de "ativismo" no dia-a-dia, mas todas procuram influenciar de alguma forma políticas e programas governamentais.

Muitas delas trazem pautas de atuação de suas matrizes, adicionando algum ingrediente local, e outras procuram uma relação mais intensa com ONGs locais, sejam ambientalistas, sejam sociais.
Acho que é assunto para um livro. Quem sabe, um dia desses...

Em síntese, há um sentimento de "amor e ódio"entre as organizações pequenas e independentes, em suas relações com as BINGOs: quando as pautas e políticas são comuns, há excelentes trabalhos conjuntos, que se demonstram extremamente importantes para o avanço do processo de defesa socioambiental no país. Mas muitas vezes as pautas e políticas são conflitantes, ou desconhecem a existência de uma rede de organizações locais e passam por cima delas com pautas e alianças inaceitáveis, etc.

20.8.07

Sacudindo a poeira no IPEA

Finalmente o IPEA está sendo presidido por alguém que pensa o longo prazo e que, mais importante ainda, aparentemente não tem como objetivo pessoal valorizar-se no mercado das consultorias. Não que todos aqueles que ocuparam esse posto nos últimos vinte anos tivessem essa pretensão, mas era o que boa parte passava para os ipeanos.

Acho extremamente importante que o respeito pelas diferenças de perspectiva, de "escolas", de posicionamento político e de opinião sejam mantidas - pois isso é essencial para o avanço no debate de idéias e proposições, e foi o marco do ambiente da instituição mesmo no brabo tempo da ditadura - mas permitir o aproveitamento indevido e privado da "griffe" IPEA deve ser coibido. Nisso o que está em jogo não é essa questão da pluralidade mas, sim, o respeito à história da própria instituição.

Que ventos arejados tirem a poeira que se abateu no IPEA e nos tragam estudos relevantes para o avanço da igualdade em nosso país, em termos de distribuição de renda e melhoria geral da qualidade de vida de nossa população.

7.8.07

O longo prazo está chegando

Quando começamos a trabalhar a questão dos impactos da soja no território, em 1994, sabíamos que era um processo de sensibilização e articulação social de longo prazo, dado o total desconhecimento da sociedade civil brasileira a respeito do assunto.

Várias organizações não governamentais brasileiras e internacionais foram somando-se ao processo, de forma articulada ou isolada, até que uma ação efetiva do Greenpeace em 2006 atingiu os grandes compradores e disparou os chamados mecanismos de mercado com que a Articulação Soja -Brasil contava para sensibilizar as grandes traders internacionais.

E os efeitos desse trabalho coletivo prosseguem na cadeia de produção da soja:
Nos próximos dias 22 a 24 do corrente mês, a Famato (Federação da Agricultura do Mato Grosso) estará realizando a segunda edição de sua "Bienal dos Negócios da Agricultura", em Cuiabá (MT), com o tema Produção Sustentável: o caminho para o futuro do agronegócio.
De acordo com seu presidente, Homero Alves Pereira, para seguir no negócio a atividade agrícola tem que "...investir mais e sempre no que poderia ser chamada de Revolução Gerencial, em que a agricultura seja vista como um elo de um novo modelo...". "É preciso informação, organização e consciência do impacto da atividade em todos os setores. A palavra sustentabilidade (grifo meu -MG) deve passar a nortear as decisões de empreendedores responsáveis", enfatiza o presidente da Famato.

Para ele, a 'Produção Sustentável: o caminho para o futuro do agronegócio'... visa ajudar a avaliar as oportunidades e desafios atuais e a traçar os cenários futuros, buscando sempre as diretrizes de uma agricultura geradora de riqueza e distribuidora de renda de forma duradoura, com bases econômica, social e ambientalmente sustentáveis"(grifo meu -MG).

Mesmo sendo cético quanto à real prática dos produtores de soja, nesse início de mudanças de perspectiva, deve-se frisar que a adoção desse discurso e proposta já representa um grande avanço do setor, reconhecendo que existem impactos negativos ambientais e sociais relevantes, que devem ser prevenidos e minimizados. Deixa para trás posturas que refletiam o isolamento e auto-referência, passando a se integrar mais às condições de mercado internacional, destino de sua produção, e que serve de referência às suas decisões de gestão.
O longo prazo começa a chegar, agora, para iniciativas de meados da década passada.

2.8.07

Jean Pierre em Alta Floresta -MT

Jean Pierre Leroy, da FASE, estará amanhã palestrando em Alta Floresta –MT, no seminário “Os desafios do Mato Grosso Sustentável e Democrático”, que o FORMAD –Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento realiza nessa cidade, com o apoio do ICV –Instituto Centro de Vida e outras ONGs locais.
Como Jean Pierre não apenas fala mas, sempre, procura ouvir seus interlocutores, creio que será uma ocasião importante para fazer avançar o debate sobre a questão da soja e como as ONGs se posicionam frente ao problema.

Para quem vai o lucro?

Nos sete primeiros meses do ano, informa Mauro Zafalon em sua coluna Vaivem das commodities (FSP, 02.08.07), o agronégócio do país exportou 21% acima do ano passado, considerando-se o mesmo período do ano, chegando a US$ 22,3 bilhões. O chamado “complexo soja” vendeu ao exterior, nesse mesmo período de 2007, US$ 6,3 bilhões, dos quais US$ 4,2 bi foram em grãos.

Ora, será que sendo 70% das vendas realizadas com produto agrícola in natura ainda pode-se falar em “complexo”? enquanto a Argentina tem uma legislação que incentiva pelo menos o processamento inicial dos grãos, a eles incorporando valor e vendendo óleo (maior exportador mundial) e farelo, o Brasil, a partir da malfadada “Lei Kandir” foi no caminho inverso, incentivando a “desindustrialização” do complexo e ainda gerando dívidas do governo Federal com os Estados origem dessas exportações de grãos.

Redução de custos
Nessa mesma coluna, Zafalon informa que a MRS Logística elevou seu lucro líquido em 22%, no primeiro semestre do corrente ano em relação a igual período de 2006, e que o grande destaque nessa performance foi o crescimento de 35% no transporte de soja e milho para os portos e de 17% de adubos e fertilizantes para o interior do país.

Ora, isso traz uma significativa redução dos custos efetivos de transporte: quem está se apropriando desse resultado, apenas a MRS? As traders, os produtores? Quem sabe a própria MRS poderia das mais informações a respeito?

25.7.07

A culpa é da mãe

Na terça feira passada houve a prestação de contas do primeiro ano da declaração da Moratória da Soja na Amazônia, em São Paulo.

Como avô da criança, não poderia deixar de estar presente. Mineiro, tinha que sair com antecedência. Programei meu vôo, então, na segunda-feira às 15h30, pela Gol, indo para Guarulhos.

Cheguei ao aeroporto de Brasília, às 14h30, fiz o check-in "rápido", sem bagagem, pois a fila para o "normal" devia ter umas 100 pessoas. Não havia previsão de saída, já que Guarulhos e Congonhas estavam fechados por mau tempo. Como isso existia antes mesmo do chamado "apagão" aéreo, achei que passaria logo e poderia chegar ainda na segunda em São Paulo.

Fiquei por ali, nos corredores do aeroporto de Brasília, matutando e observando o que estava acontecendo. Comprei um jornal, Valor Econômico, pois tinha a informação que na segunda ele publica as cotações de automóveis da FIPE, e eu poderia verificar quanto a Seguradora vai pagar pela perda total de minha Alfa 164 (que foi "assassinada" na quinta feira passada, dia 19, quando um carro bateu em sua traseira).

Tomei um expresso curto, nas mesas do 3º piso em frente aos cinemas, li o jornal (e a info não estava lá, eu havia caído em propaganda enganosa), bebi uma Coca-Cola Zero (será que reduziram a produção/distribuição da "normal", que não havia alí, para dar a impressão que a "zero" explodiu as vendas, ganhando mercado...?).

Estava vivendo minha segunda experiência de apagão aéreo, e ainda não sabia.

O "clima" interno do aeroporto comecou a piorar lá pelas 17h: muita gente chegando sem poder viajar, nem mesmo fazer o check-in, boatos de cancelamento de todos os vôos para São Paulo, pessoas ficando irritadas e brigando com os funcionários das companhias -acho que isso aconteceu mais com a Gol, mas não tenho certeza.

Decidi sair desse clima, que não faz bem pra saúde de ninguém, e esperar uma solução em casa (que fica perto do aeroporto). Perguntei a um funcionário da Gol se poderia me dar o número do telefone do check-in, para que pudesse saber do início dos vôos e retornar ao aeroporto para embarcar. A resposta foi que só existem ramais internos, não há como se comunicar com eles de fora do aeroporto. Um pretendente a passageiro que estava encostado no balcão acrescentou:
- E tem mais: quando o telefone toca aqui, eles tiram o fone do gancho e o recolocam no lugar, desligando-o sem sequer ouvir quem está do outro lado da linha.

Mesmo assim, prevendo que a coisa ia demorar, pedi à Ana Lúcia que me buscasse e fui para casa. De lá, acessei a página da Gol na Internet e seu telefone 0800, conforme relato mais abaixo.

Às 20h, sem quaisquer informações sobre o que iria acontecer tomei a única decisão que tinha governança plena, desistir da viagem - e retornei ao Aeroporto, onde enfrentando uma fila com cerca de 25 pessoas, pouco mais de meia hora depois consegui fazer o cancelamento na loja da Gol.

Quero dividir, aqui, minhas conclusões quase definitivas, sobre o que anda acontecendo:

1- não vejo como uma companhia de transporte aéreo, que depende de uma logística refinada, não tenha um Plano de Contingência para lidar com problemas em seus aeroportos-chaves, que servem de pião para toda sua malha aérea;

2- Se você escolhe Congonhas como pião, não vai buscar o histórico de sua operação, ou de seus fechamentos, para se preparar para o que lá não é uma eventualidade mas algo perfeitamente previsível, falta de condições climáticas para operação? isso aplica-se, também, a Guarulhos, a Curitiba, etc;

3- como uma cia. que se diz "inteligente", que atende e depende do público -algumas até agradecem em suas mensagens durante o vôo o fato do cliente a ter escolhido - não capacita suas equipes de frente, de atendimento, e seus gerentes, para lidar com a pressão de dois, quatro e até dez vôos atrasados, ou seja, de 300 a 1.500 pessoas se apinhando e ficando nervosas, tensas, desesperadas até, em busca de informações e atendimento em seus pontos de checagem ou atendimento geral? não é fácil suportar essa pressão, vamos e venhamos;

4- Na tarde dessa segunda feira, para se conseguir qualquer informação da Gol era preciso entrar na fila do check-in, naturalmente com mais de 300 pessoas, e que permanecia parada o tempo todo, ou furar fila sob intensos olhares admoestadores, como acabei fazendo;

5-Fui para casa e entrei na Internet, na página da Gol, pois era mais fácil que entrar na fila. Ali, havia um local de informações sobre horários de vôo: cliquei, pedi o relativo ao meu vôo, e a informação que suriu dizia que ele havia decolado às 15h30 para Guarulhos. Ou seja, mera programação sem relação com a realidade, sem atualização;

6- Na página havia, então -maravilha! - um "Atendimento on-line, Novo!, via internet - que, depois de preenchido um formulário de identificação, indicava: "você é o 20º da fila, não desligue...". Fiquei pacientemente esperando, em uns dez minutos chegou a minha vez, surgindo a informação: "carregando...". E assim ficou, carregando, carregando..., por outros dez minutos, até que caiu, desligou;

7- Otimista que sou, consultei novamente a página da Gol e descobri, finalmente, que ela havia deixado os 0300 (apenas temporariamente, adverte uma voz), em que pagamos para esperar ouvindo anúncios e musiquinhas, por um 0800 para informações, sem custo para o cliente. Cerca de 80% das opções de digitação terminavam remetendo a uma consulta no site;

8-Lá pela décima tentativa, resolvi adotar uma opção que nada tinha a ver, já que as outras me remetiam ao site, e fui atendido por uma pessoa, ao vivo, e que até buscava ser simpática e tentava resolver o problema. Tentei saber os vôos previstos para a manhã do dia 24, terça, e havia um assento no vôo das 7h40 para Congonhas, e outro em um vôo para Guarulhos. Mas não dava para fazer a reserva, argumentou o rapaz, pois mudaria de tarifa, etc e tal. Só pessoalmente, e no aroporto já que as lojas estavam fechadas, naquele momento. A essa altura, o que eu desejava era cancelar o vôo sem ter mais prejuízos ainda. Ah, isso não pode ser feito pela internet ou pelo 0800, tambeem tem que ser pessoalmente, na loja da cia.
Aí voltei ao aeroporto e enfrentei uma fila de 25 pessoas, e cancelei a viagem.

Qual é a conclusão? perguntarão vocês.

Ora, quando um dono de uma companhia que prefere empresdar, isso mesmo, vocês leram direitinho, empresDar (leia com um sotaque de "batrício" que aprendeu a língua portuguesa na marra, depois de aqui aportar, que fica até bonitinho) dois milhões de reais a políticos "amigos", ao invés de aplicá-los em planos de contingência ou capacitação de pessoal para enfrentar crises que se tornaram absolutamente "normais" no dia-a-dia da empresa, e que certamente afetarão sua imagem e faturamento, quem é o culpado? o governo? a infraero? os controladores de vôo? o guarda da esquina? o varredor de rua???? São Pedro, que não colabora? mas, porquê não pensei nisso antes, claro que é a mãe ! (geralmente dizem ser a nossa, tadinha..., que descanse em paz).

Quem sabe, quando o Capitalismo chegar nessas plagas (eu escrevi plagas, não "pragas"), existirão empresários e empresas comprometidas com seus clientes.
Por enquanto, os assim classificados são todos herdeiros dos Donatários, que receberam as Capitanias Hereditárias, e que vivem às custas da Viúva graças às suas relações inconfessáveis com os detentores do poder...