24.8.07

As BINGOs e o movimento socioambiental brasileiro

O blog do Luis Nassif, http://luisnassif.blig.ig.com.br, reproduz um artigo enviado por um leitor, chamado "As ONGs ambientais, de Gustavo Faleiros e Andreia Fanzeres, publicado originalmente em O Eco (http://www.oeco.com.br).

Essa matéria, por sua vez, refere-se a recente artigo publicado na revista Science, onde a atuação das Big International Non Governamental Organisations -conhecidas como BINGOs, é criticada. A nossa querida Suzana Pádua, presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), é uma das autoras do artigo.

Ainda não o li, mas compartilho desse sentimento comum a uma parte das pessoas que trabalham no setor (ONGs ambientalistas ou socioambientais brasileiras), mas sempre é preciso melhor qualificar e evitar generalizações, para não cometer injustiças. E nada melhor que explicitá-lo, como propôs já faz algum tempo Don Sawyer (ISPN), até para "educar" (termo que as BINGOs gostam de usar) os dirigentes de seus escritórios no Brasil.

Ainda vou ler o texto, para depois comentar com mais precisão, mas já adianto abaixo algumas questões que acho importantes (e que fizeram parte de meus comentários no blog do Nassif):

Em 1993, aposentado no IPEA, mergulhei em um mundo para mim totalmente desconhecido, o das ONGs ambientalistas.

Depois de "apanhar" muito, pois sempre falei o que pensava, aprendi como funciona esse ambiente muito particular: visto de fora é difícil, quase impossível, distinguir diferenças significativas entre as organizações. Mas elas são abismais, sob muitos aspectos, particularmente na questão do financiamento de suas atividades.

Como toda criação social, existem organizações sérias e outras nem tanto...Separar as pedras do feijão (prefiro essa expressão a "joio do trigo"..) só com alguma vivência no setor, acompanhada de senso crítico e independência.

As BINGOS detêm praticamente todo "marketing" do setor, com raras exceções para ONGs nacionais como SOS Mata Atlântica (ISA e Ipê em fase de crescimento). E isso reflete-se, naturalmente, no espaço ocupado na imprensa e na capacidade de cada uma conseguir financiamento para seus projetos. Há uma evidente "disputa de mercado", especialmente porque as fontes de financiamento desejam ver seus projetos na mídia, para também, por sua vez, poderem explicar suas aplicações aos doadores...

A atuação dessas BINGOS no Brasil depende e varia muito de acordo com quem está à frente de seus escritórios em nosso país. Além disso, algumas pretendem ser mais "científicas", deixando de lado as questões chamadas "políticas" ou de "ativismo" no dia-a-dia, mas todas procuram influenciar de alguma forma políticas e programas governamentais.

Muitas delas trazem pautas de atuação de suas matrizes, adicionando algum ingrediente local, e outras procuram uma relação mais intensa com ONGs locais, sejam ambientalistas, sejam sociais.
Acho que é assunto para um livro. Quem sabe, um dia desses...

Em síntese, há um sentimento de "amor e ódio"entre as organizações pequenas e independentes, em suas relações com as BINGOs: quando as pautas e políticas são comuns, há excelentes trabalhos conjuntos, que se demonstram extremamente importantes para o avanço do processo de defesa socioambiental no país. Mas muitas vezes as pautas e políticas são conflitantes, ou desconhecem a existência de uma rede de organizações locais e passam por cima delas com pautas e alianças inaceitáveis, etc.

Um comentário:

Drix Ramos disse...

Concordo com suas observações, Mauricio. O debate é muito relevante mas não podemos generalizar. Há casos e casos e em uma mesma organização há diferentes posturas e formas de atuação. Um aspecto fundamental para o qual temos que estar muito atentos, é quando a ação das organizações, nacionais ou internacionais, envolve comunidades e organizações locais. Nesses casos é preciso refutar as relações utilitaristas, e assegurar posturas éticas e de efetiva parceria.