4.9.07

Só enxergam o que querem ver...

O jornal Valor Econômico, em sua edição de hoje, estampa o seguinte título:
"Estudo diz que pecuária desmata a Amazônia, e não a soja".

A partir de um estudo do economista Julio Miragaya, que ocupa a
coordenação-geral de Planejamento e Gestão Territorial (CGPT), do Ministério da Integração Nacional, a matéria bate mais uma vez no ponto repisado por todos os defensores do agronegócio no Brasil (ia escrever "brasileiro", mas corrigi a tempo...): que não é a soja que desmata a Amazônia mas, sim, a pecuária.
Acho que eles continuam errando no argumento, pois deveriam ter mantido o refrão anterior, de que não é o gado que desmata a Amazônia, mas sim os madeireiros é que derrubam as árvores...
Ora, vejam trechos da citada reportagem (os negritos e itálicos são meus):
"A gente fica batendo na tecla errada, esquece o efetivo responsável e acaba adotando políticas públicas erradas", afirma Julio Miragaya, autor do estudo. "O fantasma da Amazônia não é a soja, é a pecuária".
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"Miragaya salienta que o avanço do plantio de soja em áreas que antes eram ocupadas pela pecuária, sobretudo no Centro-Oeste, forçou o avanço do gado para as áreas amazônicas. Esse efeito indireto, segundo ele, teria sido equivalente a 4,62 milhões de hectares (ou 15% das áreas utilizadas para o agronegócio)."
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"Ao contrário dos nossos concorrentes, o Brasil tem terras demais. E para onde o gado está indo? Para a Amazônia, enquanto nas demais regiões do país os rebanhos estão em declínio", diz.
"É o que se conhece como movimento de "subida do boi". Expulsos por culturas mais rentáveis do sul, sudeste e centro-oeste do país, os rebanhos bovinos encontraram na região amazônica condições ideais para crescer: terras baratas (em muitos casos griladas), solos e clima impróprios para lavouras em algumas localidades. A falta de infra-estrutura, indispensável para as grandes plantações de grãos, é outro fator que explica esse movimento."
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"O estudo mostra que o impacto (direto, observação minha-MG) da soja ainda é bastante limitado em relação ao desmatamento provocado por outros setores do agronegócio. "

"Não é a pecuária a responsável pela invasão na região amazônica", contesta o sr. Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), na mesma matéria do Valor Econômico. Segundo ele, "Falta na região um melhor controle do direito de propriedade. Muitas das propriedades não têm título e é isso que gera a disputa pela terra e fomenta a invasão de áreas". Para o presidente da SRB, no entanto, não há necessidade de se criar um zoneamento por culturas da região amazônica. "O próprio mercado decide se vale a pena plantar ou não", diz, citando como referência a moratória da soja assinada pelas indústrias esmagadoras, que se comprometeram a não comprar grão produzido em áreas desmatadas do bioma amazônico.

Depois de ler esses trechos, será que ainda fica de pé a "inocência" do avanço da fronteira agrícola da soja com relação à "culpa" do desmatamento? segundo as palavras do citado autor, a soja ocupou as terras no Centro Oeste onde estava o rebanho bovino e o expulsou para o Norte, e para alí entrar a pecuária teve que desmatar...Ora, pois!

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