21.9.07

do Touro Sentado ao Boi voador, passando pelo nosso Capitalismo...

O sui generis capitalismo à brasileira deve ser muito difícil de ser entendido pelos economistas, especialmente aqueles alinhados com a ortodoxia neo-liberal.

Como encaixar o pedido que fazem os usineiros para que o governo intervenha no mercado, como ouvido pelo Ministro da Aricultura em sua reunião com a Comissão Nacional de Cana-de-Açúcar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), quando, de acordo com a Folha de São Paulo (21.09.07), os membros da CNA demandaram “uma presença maior do governo na regulamentação do setor sucroalcooleiro no Brasil”. Diz a Folha que, “no encontro, os produtores de cana reivindicaram ao governo uma regulação mínima do setor para compatibilizar a relação entre produção e mercado...pois os preços médios recebidos pela tonelada de cana estão cerca de 20% abaixo do seu custo”. Segundo eles, “A principal causa da queda nos preços é o excesso de oferta, decorrente da expectativa de aumento de demanda.”
Na hora de ganhar, louva-se o mercado e exige-se que o governo fique fora, não intervenha. Se aumentam a produção visando ganhar mais, o que é natural – mas de acordo com as regras do mercado capitalista maior oferta significa menores preços unitários – então o governo tem que intervir para garantir maior preço!
Enquanto isso, o braço político do conjunto de senhores da terra aproveita mais um momento de fraqueza política do governo Federal para obter vantagens financeiras, (en)rolando suas dívidas em melhores condições, troca essa feita por apoio à continuidade do imposto sobre movimentações financeiras –CPMF, que naturalmente vai contra tudo que esses ditos capitalistas defendem, teoricamente.
Ainda de acordo com a FSP, onde relata o repórter Fábio Zanini:
“Além de distribuir cargos para aprovar a emenda da CPMF, uma das principais ofensivas do governo anteontem, antes da votação, foi feita com a bancada ruralista, uma das mais influentes na Câmara.
Por volta das 17h, quando começava a batalha ...pela aprovação da emenda ..., um grupo de seis líderes ruralistas e um vice-líder do governo era recebido no gabinete do ministro Guido Mantega (Fazenda) por ele e seu colega Reinhold Stephanes (Agricultura).
Ouviram a promessa de que a dívida de R$ 120 bilhões no campo estaria rolada até o fim do ano e a garantia de que 33 mil imóveis de proprietários em débito não serão leiloados (grifos meus).
...
De lá, os deputados partiram para a Câmara. O próprio Stephanes foi ao plenário, por volta das 22h30, quando a votação acontecia. "Faz parte da minha função ajudar a articular."
O repórter perguntou, então, ao Ministro da Agricultura, o que estva fazendo lá na Câmara dos Deputados. Resposta:
- Faz parte da minha função ajudar a articular quando necessário.
FOLHA - O sr. foi articular como? Foi ouvir pedidos de cargos?
STEPHANES - Não. Foi simbólico, para mostrar que estou presente. A maior parte do tempo fiquei sentado.
Até parece que, para articular no Plenário da Câmara, algum Ministro de Estado precisa ficar circulando, de pé: normalmente faz-se uma “romaria” para conversar com o visitante...
Mas enquanto o Touro ficou Sentado na Câmara, no Mato Grosso parece que a boiada está toda voando! Dizem os pecuaristas, de acordo com a CNA, que não foram eles os responsáveis pelo aumento do desmatamento no Estado. Os sojeiros falam a mesma coisa. Quem, então, derrubou tantas árvores que fez a área desmatada duplicar? os preços da carne e da soja aumentaram no mercado internacional, mas os pecuaristas do MT dizem que não têm esse estímulo porque a zona não tem condições de exportar devido à febre aftosa. Já o presidente interino da Federação da Agricultura e Pecuária do MT, Normando Carral, diz que “a pecuária ocorre no cerrado e não na floresta, em áreas propícias para a criação de gado e para a lavoura”.
Parece que esse senhor chegou à Terra agora, simplesmente ignorando a história da pecuária nas últimas quatro ou cinco décadas, quando estimulada por incentivos fiscais penetrou fortemente na Floresta Amazônica. Além disso, sua justifictiva indica que desmatar o Cerrado não tem problema, já que ele não vale nada mesmo, e que sua destruição –além da perda da biodiversidade e das águas que vão desaparecer – não estaria contribuindo, e muito, para o aquecimento global do Planeta.
Aí já chegamos ao boi voador imitando avestruz, enfiando a cabeça dentro da areia para não enxergar o que se passa à sua volta...

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