21.9.07

Os homens (e mulheres esmagados com as laranjas) que viram Suco

Já que estamos na filmografia, um título bem nacional: "O homem que virou suco".

Aqui, a culpa é do mercado, segundo justificativa dos produtores e industriais da cadeia de suco de laranja para manter seus trabalhadores em condições vís e recebendo menos que o salário mínimo. Em pleno Estado de São Paulo, não é coisa do Maranhão ou Piauí!

De acordo com a repórter Jucimara de Pádua, da Folha de São Paulo, a “Fiscalização estima que cerca de 3.000 trabalhadores de uma das principais regiões produtoras de SP recebam abaixo de R$ 380”

Informa a repórter que, em 50 propriedades produtoras de laranjas, fiscais do Ministério do Trabalho constataram que grande parte dos empregados na colheita “não têm equipamentos de segurança e são transportados em veículos precários”, além de receberem menos que um salário-mínimo por mês.

Os laranjais visitados ficam na região de Araraquara e São Carlos (interior paulista), que produz 30% da colheita brasileira do fruto, cerca de 100 milhões de caixas de laranja, de acordo com a Folha.

"A situação do trabalhador na lavoura da laranja está pior que a do trabalhador da cana", disse à repórter o subdelegado do Trabalho de São Carlos, Antonio Valério Morilas Junior.

De um lado, a desculpa e descaso

O presidente da Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores), Flávio Viegas, diz que o baixo preço pago pela indústria aos produtores de laranja é o grande responsável pelas irregularidades nos laranjais. A Abecitrus (Associação Brasileira dos Exportadores de Citros) tira o corpo fora, afirmando que não tem nenhuma responsabilidade nas irregularidades.

Segundo Morilas Júnior, da DRT, 95% dos funcionários aceitaram trabalhar ganhando menos que o salário mínimo. Eles recebem de R$ 240 a R$ 360.

O presidente da Associtrus informa que a indústria os paga de U$ 3 a U$ 4 a caixa, quando o custo de produção é de U$ 7. Não conseguimos oferecer melhores condições de trabalho", conclui Viegas.

O presidente da Abecitrus (exportadores), Ademerval Garcia, informou que "a caixa de laranja é comprada pela indústria na porta da fábrica, que não tem responsabilidade pela colheita". Ele diz que o preço da caixa de laranja não está baixo. "É negociado entre produtor e indústria. Seguimos o mercado", conclui Garcia.

Ou seja, se a colheita é realizada por semi-escravos, eles fecham os olhos para isso e esmagam laranjas e homens. O que importa é exportar o suco. Quando começarem a enfrentar barreiras nessa exportação, devido às condições de trabalho degradantes na cadeia produtiva, vão se sentir injustiçados.

Do outro lado, o desamparo

Elio Neves, presidente da Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), disse à FSP que as irregularidades no setor de laranja demonstram o "descaso" com os trabalhadores.

"O agronegócio brasileiro tem a cultura de descumprir os direitos, completou ele à repórter da Folha, e toda vez que a fiscalização afrouxa, as irregularidades aparecem. O suco de laranja brasileiro é competitivo no mercado internacional à custa do trabalho degradante e o não-cumprimento das normas trabalhistas", disse Neves.

Ademildo Luque, 38, que colhe laranjas na região de Itápolis há quatro anos, disse à repórter da Folha que nunca enfrentou situação tão crítica. "A maioria não consegue tirar o salário mínimo porque a laranja está miúda. Trabalhamos o dia todo e com muito custo conseguimos encher a caixa. A safra está ruim." Os trabalhadores ganham por produtividade -o produtor paga R$ 0,31 por caixa colhida de 27 kg.

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