10.9.07

Mercado das Indulgências Verdes

O colunista Marcelo Leite, da Folha de São Paulo, tocou ontem (09.09.07) em um ponto nevrálgico no modismo das compensações ambientais em voga no momento: a compra de créditos de carbono, que ele classifica como "indulgências verdes".

Ele lembra que "está fazendo falta um Lutero para sacudir a igrejinha verde de nossos tempos"...Lutero revoltou-se com a venda de indulgências pelo Vaticano e acabou liderando um cisma que resultou na igreja que levou seu nome.

Mas, prossegue Marcelo:
"A compra e venda de indulgências, no entanto, segue firme. Mudou de ramo, aplacando agora consciências recém-convertidas ao credo ambiental por meio da neutralização de carbono. Parece bem lucrativo, e por ora não se vislumbra o risco moral de um Lutero verde no horizonte."

Encurtando a estória, o colunista coloca em foco as compensações de emissão de carbono das suas atividades que Al Gore e sua equipe de produção do documentário "Uma Verdade Inconveniente" tentaram realizar. A "produção do filme provocou o lançamento de muito gás do efeito estufa na atmosfera. Como Gore e sua trupe são ecologicamente corretos, preocuparam-se em "neutralizar" tais emissões."

Essa "neutralização é, hoje, o must ambiental empresarial. Um especialista "contabiliza todas as atividades relacionadas com o filme que emitem gases-estufa, converte-as para toneladas equivalentes de gás carbônico" e o responsável pela emissão dos gases compra títulos de carbono no mercado.

Marcelo localizou uma reportagem de Alan Zarembo no "LA Times", no dia 02.09.07, que registra que "os 496 dólares e 96 centavos que os produtores de "Uma Verdade Inconveniente" pagaram para neutralizar as 41,4 toneladas de carbono geradas pelo filme não serviram para grande coisa. O intermediário, uma firma chamada Native Energy, empregou o dinheiro para comprar e repassar -com lucro provável de quase 10 dólares por tonelada- títulos de projetos que haviam economizado emissões de gases-estufa na Pensilvânia (geração de eletricidade a partir de metano de esterco de vaca) e no Alasca (eletricidade produzida com turbinas de vento).
O galho, descobriu o repórter Zarembo, é que ambos os projetos iriam ser feitos de qualquer jeito, com ou sem os títulos de carbono. O dono das vacas pretendia ganhar direito vendendo eletricidade extra para a rede e aceitou alegremente, sem negociar, a primeira oferta da Native Energy para comprar as reduções. Algo de similar aconteceu no Alasca.
Johann Tetzel e Al Gore que nos perdoem, mas está fazendo falta um Lutero para sacudir a igrejinha verde de nossos tempos", conclui Marcelo Leite (para ler a coluna completa, exclusivo para assinantes da Folha e do UOL, clique aqui)

Sem dúvida alguma, Marcelo.
Será preciso muito trabalho das pessoas que estão apostando seriamente nesse mecanismo de compensação, para criar mecanismos de monitoramento e levar recursos para projetos que realmente não teriam como ocorrer sem esses aportes de recursos, para que as compensações deixem de ser indulgências ou meros papéis financeiros sem qualquer ligação com a realidade do planeta...

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